A última turnê da empregabilidade e do networking


Artigo de Rafael Souto, CEO da Produtive, publicado em sua coluna Novas Conexões, do Valor Econômico, na edição de 18 de setembro:

A tempestade perfeita parece estar formada no horizonte. O Brasil fez apostas econômicas que se mostraram ruins nos últimos anos. Um projeto baseado apenas no crescimento do consumo interno, distribuição de renda sem formação de força de trabalho, irresponsabilidade de gastos públicos, aparelhamento do Estado e não priorização de reformas essenciais. O resultado é o baixo crescimento e um sentimento generalizado de frustração e descrença sobre nosso potencial como nação. O cenário de emprego no Brasil não deve ser positivo nos próximos anos. Economia ruim e geração de empregos não andam juntas a não ser em estatísticas duvidosas.

Além disso, temos um conjunto de mudanças econômicas globais importantes e que tornam o emprego mais complexo e difícil. A pressão brutal por competitividade força as empresas a reduzirem suas estruturas e contratar menos pessoas.

E ainda temos uma nova geração com visão diferente sobre trabalho e desenho de vida. Novos protagonistas que querem mais do que emprego. São frutos dos ganhos que a estabilidade econômica trouxe. Podem planejar suas carreiras e não precisam apenas sobreviver como seus pais que lutavam para ganhar dinheiro na cambaleante economia brasileira dos anos 80 e 90.

Esses três fatores somados: Brasil crescendo pouco, empresas pressionadas e novas visões sobre trabalho podem ser considerados a manchete da última turnê da empregabilidade.

Esse termo surgiu nos anos 90 e significa a capacidade de um profissional ser atrativo no mercado. Empregabilidade é o quanto uma pessoa é interessante para os contratantes. Esse modelo não tem mais futuro porque ainda é focado em relações de emprego do início da industrialização do Brasil, porém com ciclos de tempo menores. Não significa uma transformação no jeito de produzir e sim uma forma de sobreviver às mudanças drásticas dos anos 90. Foi um avanço importante na forma de gerir as carreiras. O profissional passou a ser o protagonista de sua trajetória. O conceito de empregabilidade cumpriu uma missão significativa na sua época. Hoje, não reflete as novas conexões que o mercado do século 21 passou a exigir.

A nova ordem é a trabalhabilidade. Tenho repetido essa expressão porque exprime a tendência nas relações de trabalho. Não se trata apenas de um neologismo. É um outro jeito de entender o mercado e de como produzir nele. Pensar diferentes possibilidades do que cada indivíduo pode realizar. Estudar para ter um bom emprego é o pior conselho que alguém pode receber. A melhor sugestão seria estudar e se preparar para produzir algo relevante na sociedade de diversas formas, como empregado, empreendedor, consultor, executivo interino, conselheiro ou qualquer outra forma de transferir conhecimento e ser remunerado por ele. Esse conceito abrangente é mais promissor do que pensar em ter um currículo atrativo para as empresas contratantes. Exige uma mudança no “software” mental.

Aqueles que insistem nas relações de emprego formal e sua sensação de segurança caminham para sua última turnê como uma dessas bandas de rock internacional que, no declínio de seu sucesso, procuram o hemisfério Sul para fazer suas jornadas terminais.

Outro ícone do final do século passado quando se fala em carreira é o networking. A ideia de reunir pessoas e estabelecer relacionamentos é antiquada. Percebo que a capacidade real de usar contatos e impulsionar a carreira evoluiu para outro nível. Chamo isso de conectividade.

Essa capacidade ativa de fazer conexões é um novo jeito de construir relações. Não basta colecionar nomes nas redes sociais. É preciso ser um agente de conexões entre pessoas. A conectividade é um nível mais avançando da estratégia de fazer contatos. Procurar alguém quando precisa de trabalho ou informações faz parte do antigo modelo. A lógica da conectividade é funcionar como um “hub” que articula interesses e promove encontros entre pessoas. A premissa é impulsionar a rede de modo coletivo. Esse novo modelo exige tempo, energia e vontade genuína de ajudar. As demandas individuais devem estar inseridas nessa roda de ações, mas não podem ser o único motivador.

Quando o sol se põe algumas estrelas surgem primeiro. Os profissionais do século 21 devem ser essas estrelas num céu de novas oportunidades, repensando seu modo de produzir e a forma de contribuir na sociedade. Conectar pessoas, projetos e colocar-se neles é mais do que listas de contatos. Pensar em trabalho, capacidade de produzir e encontrar satisfação é muito mais que ter emprego. Se não conseguimos fazer reformas essenciais no Brasil, ao menos vamos transformar nossas mentes para sermos competitivos num século desafiador.

 Rafael Souto é sócio-fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado

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