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“Quiet quitting”: o que quer movimento que defende a “demissão silenciosa” e como isso pode impactar negativamente a carreira

Manifestações nas redes sociais ganharam repercussão e motivaram o debate entre vida pessoal e carreira. Especialistas alertam para o prejuízo que a atitude pode causar no desenvolvimento profissional

“Trabalho não é sua vida” e “seu valor não é definido pela sua produção” são ideias defendidas pelo engenheiro de Nova York Zaid Khan, 24 anos, em um vídeo no TikTok. O material tem 3,5 milhões de visualizações e deu visibilidade ao movimento quiet quitting – em português, virou “demissão silenciosa” -, ideia que que defende a necessidade de haver equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal do profissional. Nesse entendimento, a pessoa cumpre apenas atividades essenciais para que não seja demitida.A discussão ganhou espaço com a “The Great Resignation” (a grande renúncia, em português), movimento dos Estados Unidos no qual jovens compartilham a saída do emprego em redes sociais.

O assunto abre discussão sobre os limites entre trabalho e vida pessoal e como as organizações devem se portar para evitar que o quadro de funcionários seja integrado por pessoas desmotivadas, conforme especialistas ouvidos por GZH.

Dano para a reputação
Rafael Souto, especialista em carreira, CEO da consultoria Produtive e fundador da Plan6 Aceleradora de Carreira, diz entender que a discussão é antiga e envolve diversos contextos: de pessoas que querem, de alguma forma, “desacelerar” no trabalho, por questões de saúde mental, por exemplo.

No entanto, unem-se a esse comportamento aqueles indivíduos que querem sair da empresa, mas que, por questões financeiras ou por falta de opção, decidem fazer “corpo mole” nas atividades e esperar por um posicionamento da organização, contextualiza o especialista:

— O indivíduo opta por uma estratégia de escolher fazer estritamente aquilo para o qual é contratado ou está forçando uma saída, fazendo o mínimo para ser demitido e não perder dinheiro? Essa estratégia não parece ser honesta e gera bastante dano para a reputação da carreira da pessoa.

Souto acrescenta que o propósito de quiet quitting é o oposto da busca que o indivíduo deve estabelecer para ter autonomia e crescer na carreira. Nesse contexto, são habilidades do profissional saber organizar a própria vida e o tempo das atividades na organização e fora dela, ter atenção à saúde mental e definir os objetivos no mercado de trabalho.

Portanto, os cuidados com essas demandas precisam partir da pessoa, que deve ser transparente com os líderes da empresa para evitar desgastes para os envolvidos.

— Se o indivíduo tem desconforto em relação à carreira, ele tem de procurar se movimentar, debater internamente uma mudança, não ficar buscando por um comportamento de não entrega para forçar a própria demissão — pontua.

O especialista comenta que as demandas da demissão silenciosa não podem ser ignoradas pelas empresas, que precisam ficar atentas aos profissionais, para identificar se a instituição não tem pavimentado um “ambiente tóxico” para todos. Por isso, ele agrega, a empresa, por meios dos responsáveis, deve colocar a comunicação na rotina do trabalho, estratégia para não criar um “exército de pessoas desengajadas”.

— O novo mundo do trabalho exige mais diálogos transparentes sobre os indivíduos, e não só sobre a rotina, a meta, o processo. Porque, assim, o líder tem uma medida do antídoto para enfrentar esse fenômeno e ajudar a pessoa. A demissão silenciosa mostra que existe hoje um buraco nos diálogos entre indivíduo e organização — finaliza.

Crítica social ao excesso de trabalho
Carmem Giongo, doutora em Psicologia Social, professora da Universidade Feevale e pesquisadora em saúde mental e trabalho, comenta que o debate da demissão silenciosa é um assunto estudado há anos. No entanto, os estudiosos usavam uma definição diferente: presenteísmo, definido como uma “forma de ausência” do funcionário no trabalho, na qual o indivíduo está no local, mas não focado às tarefas. Não há, assim, empenho ou envolvimento afetivo do indivíduo com a empresa.

Segundo a professora da Feevale, esse entendimento é parecido com a demissão silenciosa, mas há um componente novo: agrega à discussão o que a pesquisadora chama da romantização do mercado de trabalho, o que, segundo ela, é um entendimento que se impregnou na rotina da sociedade brasileira nas últimas décadas.

— Existe um movimento social de crítica à glorificação do excesso de trabalho. As pessoas se orgulhavam de ser workaholic (viciado em trabalho, em português), de trabalhar muito, de fazer muitas horas extras, estar no terceiro turno de trabalho, como se isso fosse algo com valor social, que trouxesse dignidade. Então, agora ocorre um processo de crítica à extrema doação ao trabalho — comenta.

Essa visão de mundo, de colocar a carreira frente aos assuntos pessoais e à saúde mental, foi responsável pelo desenvolvimento de quadros de ansiedade, depressão e burnout em diversos trabalhadores nos últimos anos, conforme a pesquisadora. Essas situações são observadas há anos, mas foram impulsionadas por causa da pandemia de covid-19, que exigiu a mesclagem da vida pessoal com a profissional em atividades feitas em home office, fenômeno que a professora da Feevale chama de hiperconexão.

Mas o que o trabalhador precisa fazer para não “exceder o limite” e evitar problemas de saúde? Para a pesquisadora, o indivíduo precisa, primeiro, entender que é indispensável encontrar equilíbrio entre as atividades do trabalho e a vida pessoal, para integrar à rotina da pessoa o tempo com a família, o descanso e ter tempo para se dedicar a compromissos que não têm relação com a carreira.

“Só os curiosos vencerão”: trabalho exigirá profissional dedicado aos estudos até o fim da carreira

Especialistas apontam profissões que são tendência atualmente e também nos próximos anos

Profissões que absorvem o impacto da tecnologia e exigem um maior entendimento das ferramentas digitais disponíveis são tendência no presente e também no futuro do trabalho, apontam especialistas. Eles ainda destacam que grandes áreas de atividades mais tradicionais não vão desaparecer, mas passarão por transformações cada vez mais rápidas. Especialista em carreira, Rafael Souto, que é CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado, uma das maiores consultorias de outplacement do Brasil, explica que as profissões do futuro também estão ligadas ao eixo de transformação das atividades existentes dentro de cada área.

— O profissional de Ciências Contábeis é um exemplo. Olhando alguns anos atrás, ele era o guarda-livros. Para esse profissional, o mercado, provavelmente, não existirá mais. Mas ele mesmo, se avaliar a transformação da área e conseguir se transformar num controller (profissional que garante a execução dos recursos da empresa da forma mais rentável possível), estará numa área que só cresce — comenta.

Souto sugere aos estudantes e profissionais de atividades mais tradicionais, como direito, contabilidade, vendas, marketing e jornalismo, que mantenham o olhar atento ao “gap de oportunidades”, às “zonas de transformação” da área profissional.

— Só os curiosos vencerão. É preciso estar explorando, aprendendo e reaprendendo as suas atividades. Quando olhamos o ciclo da carreira no passado havia a fase de estudar, trabalhar e se aposentar. Hoje, o ciclo mudou: é preciso continuar estudando a vida toda porque as atividades vão se transformando com velocidade. Para se manter competitivo e evitar o efeito “Kodak de obsolescência”, o profissional precisa olhar as zonas de transformação das suas atividades — alerta Souto.

Mesmo pensamento tem o professor Cláudio Mazzilli, da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

— Não existe mais a pessoa que fez uma especialização e viverá disso, recusando mais aprendizagem. O que vemos hoje são profissionais que precisam entender de análise de dados, de finanças, de contabilidade e de recursos humanos. Mas o salário seguirá sendo o de uma única pessoa. E ainda não terá o vínculo formal e a pessoa vai realizar trabalhos por projetos eventuais — reforça Mazzilli, destacando as novas modalidades de vínculo empregatício, que estão distantes da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Para a professora, pesquisadora e coordenadora do grupo de estudos em Desenvolvimento de Carreira da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Manoela Ziebell, que também é vice-presidente da Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP), a pandemia de coronavírus antecipou e intensificou as transformações no mercado de trabalho. E o avanço da tecnologia ganhou mais força por conta do distanciamento social e, consequentemente, do trabalho remoto.

No olhar da pesquisadora, algumas profissões precisaram se transformar para acompanhar o movimento de urgência de mudança da tecnologia. Os comércios e serviços físicos que migraram para o mundo online e decidiram não retornar mais ao atendimento presencial são exemplo disso. Para atender estes profissionais em distanciamento, vieram para ficar startups de aplicativos relacionados ao transporte, à alimentação e saúde mental porque as pessoas começaram a apresentar estas necessidades com a conveniência de não ir ao presencial.

— O próprio setor de educação mudou. Se antes a gente questionava a qualidade do ensino remoto, hoje sabemos que é possível ter oferta de cursos e formação continuada online, alguns com muita qualidade — ressalta Manoela.

A pesquisadora vê como tendência o mercado buscando profissionais mais pelas competências do que pelos títulos alcançados na graduação e na pós-graduação.
Na esfera das novas profissões, Manoela vê um mercado mais fluído, onde as novas profissões integrarão conhecimentos de diferentes áreas para solucionar problemas mais complexos. O especialista em carreira Rafael Souto concorda.

— Não temos mais que falar em profissões ou atividades estanques numa caixinha, mas em fluidez e potencial de contribuição. As habilidades mais poderosas no futuro, as powers skills, não estarão ligadas ao conhecimento técnico, mas à capacidade do indivíduo de aprender, se adaptar, ler cenários e ter esta possibilidade de circular mais dentro da organização. Ou seja, a carreira no futuro será menos linear, com organograma clássico, e mais funcionando como nuvem. Onde estamos num projeto, num squad, num hub contribuindo para uma demanda importante do negócio e algo que faça sentido para a própria carreira — resume Souto.

Profissões em destaque

Em seu Guia Salarial 2022, a Robert Half, uma das maiores consultorias de recrutamento especializado no mundo, mapeou as principais carreiras do futuro e que já são tendência no presente nas áreas de Tecnologia, Engenharia, Recursos Humanos e Vendas e Marketing.
Segundo o gerente da Robert Half, Alexandre Mendonça, a pandemia acelerou a transformação das profissões no mercado e nas contratações.

Algumas profissões que eram previstas mais à frente, destaca Mendonça, foram antecipadas por necessidades das empresas, como o especialista em Machine Learning, profissional que tem como função desenvolver cálculos, simular cenários de decisão e avaliar periodicamente os resultados gerados por esses sistemas. Outras profissões se tornaram ainda mais importantes, acrescenta o gerente, como engenheiro de inovação e engenheiro de dados, que eram funções muito específicas para determinados projetos e que começaram a ser buscadas de forma geral.

— Hoje, as empresas têm um tripé muito forte: pessoas, processos e tecnologia. E os profissionais que precisam menos de gestão estão sendo os mais buscados. Não cabe mais o profissional que precisa ser demandado. A procura é pelo profissional pró-ativo e propositivo até porque a tendência é ir para um sistema híbrido. Por isso, profissionais mais autônomos e com autogestão mais forte são os mais demandados no mercado.

Mendonça completa dizendo que cada profissão continuará tendo suas particularidades, mas saber inglês fluente e ter habilidades tecnológicas farão a diferença na hora da contratação. Além disso, ele alerta para uma tendência que já está se tornando comum nas seleções das maiores empresas:

— Estamos num momento importante onde está se falando mais sobre diversidade e inclusão. Por isso, as skills (habilidades) que estão mais importando são a qualidade do profissional na hora da entrega e a relação que ele tem com a cultura e os valores da empresa.

Daniel jamais parou de estudar

O arquiteto de soluções Daniel Chassot Mentz, 44 anos, de Porto Alegre, não chegou a concluir a faculdade de análise de sistemas, no começo da carreira. Mas isso não significou uma estagnação na profissão. Para se manter atualizado na área da tecnologia da informação, Mentz participa anualmente de cinco a 10 cursos especializados e de duas a cinco certificações (realizadas com testes). Ou seja, jamais parou de estudar.

— A TI é muito dinâmica. Na área de tecnologia, tudo muda a cada semana. Tem que estar sempre se atualizando. A sopa de letrinhas não acaba. Gosto de desafios e eles são diários nesta área — revela.

Mentz iniciou como analista de pré-vendas, uma função menos ampla e com entrega mais restrita, sem imaginar que chegaria a uma das profissões apontadas como tendência. Por atuar numa empresa de tecnologia, precisou buscar as certificações repassadas por grandes fabricantes, como Microsoft, Dell e outras. Com o tempo, passou a desenhar projetos mais complexos voltados também à segurança da informação.

Para Mentz, que hoje atua em home office 95% do tempo de trabalho, o bom profissional é aquele que tem interesse em evoluir, em aprender e ensinar diariamente, trocando experiência com os colegas.

As competências mais importantes no mercado de trabalho, segundo Manoela Ziebell

Adaptabilidade. Não é moldar-se ao cenário como a água se molda à forma de gelo. Adaptabilidade é mais pró-ativa, olhar para o futuro e perguntar qual a sua responsabilidade de construir este futuro, quais os cenários possíveis e os desafios e como se preparar.

Conhecimento em diferentes áreas.

Autonomia.

Olhar interdisciplinar.

Disponibilidade em seguir aprendendo.

Confira as profissões mapeadas pela Robert Half:

Engenharia
Piloto de drone – controla a máquina para a produção de imagens e fotos aéreas, inspeções de estruturas, monitoramento agrícola, segurança pública, etc.

Engenheiro de georreferenciamento – mapeia imóveis rurais, definindo sua área e posição geográfica, o que inclui a criação de curvas de nível, diagnósticos locais e o desenvolvimento de relatórios.

Engenheiro de dados – gerencia, otimiza e monitora a captação, armazenamento e distribuição de dados em toda a empresa.

Engenheiro de inovação – cria novas soluções de produtos ou processos, complexas ou simples, para ganho de produtividade.

Recursos Humanos

People Analytics – responsável pelo processo de coleta, análise e geração de insights baseados em dados para a gestão de pessoas em empresas.

Change Management – acompanha o processo de planejamento e implementação de mudanças na empresa, garantindo que sejam concretizadas e duradouras.

Especialistas em Diversidade Equidade e Inclusão (DEI) – planeja, executa e monitora estratégias que tenham como foco a inclusão das pessoas nas empresas.

Tecnologia
Desenvolvedor Front-End – responsável pela experiência do usuário em páginas web.

Desenha e desenvolve as páginas com as quais o usuário final irá interagir.

Desenvolvedor Full Stack – desenvolve as funcionalidades dos sistemas, atuando tanto em front-end quanto em back-end (criação de códigos para a execução das funções de uma aplicação web).

Pentester – conduz testes de segurança em uma infraestrutura para prevenir invasões e exposições de dados (“hacker do bem”).

Arquiteto de Soluções – desenvolve, faz a adequação e integra novas soluções personalizadas aos processos já existentes nas organizações.

Especialista em Machine Learning – desenvolve cálculos, simula cenários de decisão e avali periodicamente os resultados gerados por esses sistemas.

Vendas e Marketing
Analista Martech – estabelece a integração entre a tecnologia e o marketing, aliando as demandas de vendas e marketing da empresa às melhores tecnologias a favor desses setores.

Líder de live streaming – garante o bom funcionamento das transmissões ao vivo e coordena a equipe dedicada a entregar transmissões de qualidade para o público-alvo.