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O fim do plano de carreira como o conhecemos

Em seu novo artigo para a Você RH, Rafael Souto, CEO da Produtive, mostra que líderes precisam ter a consciência de que dialogar sobre carreira é conversar sobre interesses do indivíduo e ajudá-lo a realizar seu projeto.

 

 

O mundo do trabalho vem se transformando rapidamente. Os modelos previsíveis de carreira na empresa sucumbiram diante das mudanças de estruturas. O organograma tradicional sofre pelas alterações das estratégias de negócios cada vez mais frequentes. Falar em plano de carreira ou sequenciamento de cargos em uma organização já faz parte do passado.

O problema fica mais evidente quando vários estudos revelam que as expectativas dos profissionais em relação a crescimento e desafios na carreira estão maiores. Uma pesquisa de doutorado, conduzida pela Prof. Dr. Manoela Ziebell, procurou mostrar os motivadores de turnover nas empresas. A conclusão foi que 46% das pessoas trocam de empresa por falta de perspectivas na organização. Muitas delas seguem com a fantasia do antigo plano de carreira. Esse dado expressa o quanto temos que trabalhar no assunto.

Na mesma direção, um levantamento da consultoria CEB/Gartner revelou que 52% dos entrevistados saem das empresas por estarem decepcionados com suas carreiras. A falta de oportunidades é o fator chave para perda de talentos.

Esse novo cenário impõe um conjunto de desafios para empresas e profissionais. Do ponto de vista da organização, uma ação fundamental será preparar gestores e indivíduos para lidarem com esse novo mundo do trabalho. Os modelos tradicionais de discussão de carreira misturados com avaliações de desempenho ou feitos mediante promessas de cargos e salários contribuem mais para confundir as pessoas do que para ajudá-las em seu desenvolvimento.

As empresas mais avançadas já se deram conta disso e reformularam seus modelos de trabalho. Operam com metodologias em que os gestores investem mais tempo em reuniões focados no futuro e bem menos em retrospectivas. Mas, para que isso funcione bem, os líderes precisam ter a consciência de que dialogar sobre carreira é conversar sobre interesses do indivíduo e ajudá-lo a realizar seu projeto.

Nesse ponto, temos um enorme desafio, porque a cultura de gestão ainda é baseada em comando e controle. A organização define os rumos dos profissionais. Em uma visão mais contemporânea, teremos que transformar essa forma de gerir. A discussão sobre carreira precisa ser construtivista. O líder não pode impor seu modelo de carreira ou movimentar pessoas sem envolvê-las na tomada de decisão. É preciso lidar com as escolhas dos indivíduos nesta nova abordagem.

Parte da angústia sobre a falta de oportunidades nas empresas reside na ausência de conversas regulares sobre carreira. Muitas organizações só fazem esta fala quando o profissional já está com um pé na rua. A famosa retenção é, na verdade, um remédio amargo e atrasado.

Por isso, é essencial empoderar nossos gestores a dialogar sobre o desenvolvimento de suas equipes. Enfrentar de forma aberta as divergências e respeitar as escolhas profissionais de seus colaboradores. Essa conversa transparente e permanente, por si, aumenta o engajamento das pessoas.

Fato é que o pesquisador e psicólogo europeu Wilmar Schaufeli, especialista nesse tema, afirma de maneira categórica que as empresas que têm a cultura de diálogos abertos e frequentes com os profissionais aumentam em até 3 vezes o engajamento e o comprometimento delas. O resultado é ver pessoas que se sentem cuidadas e respeitadas.

A segunda parte do desafio está no trabalho de educação sobre carreira. Ou seja, ajudar os indivíduos a assumirem o controle de sua vida profissional. Quanto mais cedo conversarmos sobre o protagonismo na carreira e a responsabilidade que não pode ser transferida, contribuiremos na formação de profissionais mais conscientes sobre seus temas de desenvolvimento e mais seguros de suas decisões.

O plano de carreira é do indivíduo e a organização ajudará a realizar esse projeto por meio de diálogos que procurem equilibrar o projeto empresarial e os interesses das pessoas.

QUEM NÃO SE COMUNICA SE COMPLICA

A consultora de carreira sênior da Produtive, Marcia Oliveira, fala sobre a importância do diálogo para as empresas não sofrerem turn over e perderem talentos à Revista Espírito Santo.

Controle sobre fluxo de informações permite à empresa conhecer melhor o colaborador e evita a “Rádio-Corredor”

Todo funcionário de uma empresa tem uma visão sobre o lugar onde trabalha e sobre as pessoas com quem convive durante o expediente. Boa parte dessa noção se deve ao que a organização transmite para o colaborador a respeito dos processos internos de trabalho. A garantia de uma boa imagem entre os empregados vai depender de como as lideranças encaram os processos de comunicação interna. O gestor que leva isso a sério tem a garantia de contar com uma equipe que fala a mesma língua.

Para se ter uma ideia, a consultora Etienne Totola mensura que em torno de 60% dos problemas que surgem em uma empresa estão relacionados a falhas em processos de troca de informações. “Uma comunicação malfeita vai gerar conflitos porque as pessoas não conseguem se compreender. Consequentemente, isso vai gerar custo alto de trabalho e redução da produtividade”, afirmou.

Para a especialista, a motivação dos contratados fica prejudicada quando eles não sabem o rumo que devem tomar e o que esperar da organização. Inclusive essa incerteza é uma das principais causas de pedidos de demissão por parte dos trabalhadores.

A Produtive Carreira e Conexões com o Mercado fez uma pesquisa sobre as principais razões que motivam o colaborador a abandonar uma organização. A ausência de clareza de perspectivas e o desalinhamento entre a proposta feita pela empresa e a atividade real do dia a dia representam 43% das causas de evasão. Os dados são de 2013.

A solução para o problema está em uma comunicação interna eficiente. Essa é a opinião da consultora de carreira sênior da Produtive, Márcia Oliveira. Ela considera essa situação como um ponto nega­tivo e acredita que o diálogo sobre carreira dentro da empresa pode ser a solução para manter bons profissionais. “A empresa pode até ter perspectiva de desenvolvimento de carreira para o colaborador, mas acaba não comunicando isso bem. Então, pode perder um talento para o assédio do mercado de trabalho e ficar desfalcada no planejamento de pessoal”, avalia Márcia.

A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO

O setor da comunicação interna é responsável por afinar os valores e propósitos da empresa com os seus colaboradores.

Essa parte da comunicação tem a função de compartilhar infor­mações essenciais para a evolução do negócio. Promove também iniciativas para melhorar a qualidade de vida durante o expediente. É essa área que deve alinhar o desempenho de toda a organização com a função de cada um dos empregados.

O professor universitário e consultor José Antônio Martinuzzo defende que o setor de comunicação é fundamental para estruturar e manter o crescimento de uma companhia. “Montada uma orga­nização, é somente a comunicação contínua e eficaz que a fará se manter e avançar, publicizando e promovendo diálogos em torno dos processos e desafios de se alcançar o objetivo comum organiza­cional”, aponta.

O acompanhamento frequente das trocas de informação também é relevante para garantir o valor de marca da empresa. A consultora Márcia Oliveira assinala a comunicação como estratégica para que os processos e decisões entre áreas da organização sejam fluidos e mantenham o foco no negócio. Os investimentos nessa área facilitam que a missão, a visão e os valores do empreendimento sejam compar­tilhados por todos os colaboradores. “A comunicação interna viabiliza o planejamento de pessoal, para a organização, e o protagonismo de carreira, pelo funcionário”, avalia ela.

OS DESAFIOS

Uma comunicação interna inexistente ou ineficiente pode acar­retar uma série de transtornos para o ambiente organizacional: falta de cooperação, ambiente de trabalho ruim, problemas de relaciona­mento entre funcionários, dúvidas nos processos. Conversas paralelas tomam tempo e semeiam a discórdia. Os colaboradores acabam se afastando do seu objetivo, e isso pode acarretar a insatisfação geral com o trabalho. Esses são apenas alguns dos exemplos.

Fica difícil controlar os fluxos de informação sobre o que acon­tece na empresa. “Ocorre o que é popularmente conhecido como peão ou rádio-corredor. É um transitar intenso de notícias quase sempre bastante equivocadas”, alerta a consultora Etienne Totola. Segundo ela, esses desafios devem ser superados porque, juntos, podem gerar a falta de comprometimento. “Isso vira uma bola de neve”.

Uma das maneiras de consolidar as estratégias internas é durante os treinamentos que a empresa realiza. Neles, é possível destacar a importância de um processo de comunicação eficiente. “As pessoas filtram o que ouvem e a própria relação estabele­cida entre elas próprias pode gerar barreiras nessa comunicação”, ressalta Totola. A consultora destaca que a comunicação vai muito além daquilo que é verbalizado.

“A comunicação também envolve a forma de comportamento, as atitudes, o tom da voz e a capacidade de ouvir. Geralmente, as pessoas pensam a comunicação somente no falar, mas isso envolve também o ouvir, o compreender o que o outro está querendo dizer”, exemplifica. Uma das dificuldades enfrentadas é a da aceitação do ponto de vista alheio.

Muito além da língua, até mesmo o corpo pode expressar emoções que não fazem bem ao ambiente de trabalho. A consul­tora aponta, por exemplo, os traços de impaciência e rejeição nítidos na postura corporal. Ela também destaca o mau costume de interromper um colega ou superior no processo de expressão. “Muitas vezes, o outro está começando a falar e a gente já responde, dizendo que sabe o que é e do que se trata”, complementa.

RESULTADOS DO INVESTIMENTO

Quando a empresa investe em canais de comunicação e traça uma estratégia bem definida, os resultados positivos logo tendem a aparecer. Os valores e propósitos devem estar alinhados com os colaboradores, e isso é função dessa atividade. A comunicação interna precisa alinhar o desempenho de toda a organização com a função de cada um dos colaboradores. Os frutos de uma política bem estruturada vão desde a melhoria nos fluxos de informação até o aumento na produtividade.

REDUÇÃO DE RUÍDOS Uma comunicação eficiente também traz diminuição de conflitos, melhoria nos resultados, mais engajamento, sinergia entre os setores, além de processos claros e eficientes.

GESTÃO DA IMAGEM É preciso que todos falem a mesma língua. O investimento em marketing deve focar a construção de uma visão positiva interna e externamente. Isso evita que a insatisfação do público-alvo da empresa.

ENGRENAGEM PRODUTIVA Os trabalhadores devem produzir conhecendo a importância deles para a empresa. Isso fica mais fácil quando sabem exatamente o que espera que façam. A motivação deve ser trabalhada para aumentar a produtividade.

FERRAMENTAS DA COMUNICAÇÃO INTERNA

Uma comunicação interna eficiente depende da avaliação de uma série de fatores. Entre eles, o tamanho do negócio, o ramo econômico, os objetivos da empresa e as dificuldades que ela enfrenta. Somente assim é possível selecionar as formas mais adequadas de fazer a integração do público-alvo, formado pelos próprios colegas de trabalho.

Em uma visão geral, os responsáveis pela área precisam avaliar quais os meios mais interessantes a serem utilizados pela organização com o objetivo de fazer um trabalho eficiente de comunicação. Entre os principais recursos, destacamos os veículos internos e as formas de comunicação operacional.

JORNAL, NEWSLETTER E BOLETIM Devem contar as principais informações sobre a organização, além de trazer notícias sobre o setor de atuação, curiosidades e utilidades. Revistas e folhetos são outros exemplos de informativos. Há empresas que, além desses, possuem sua própria TV interna ou um sistema de rádio empresarial.

INTRANET, E-MAIL E QUADRO DE AVISOS Muito utilizados para divulgar informativos e comunicados da empresa. Rede interna corporativa (intranet) e quadro de avisos divulgam folgas, feriados, horários diferenciados, aniversários e datas comemorativas. Deve-se evitar o excesso de mensagens, principalmente nos e-mails.

INTEGRAÇÃO Todo colaborador que chega a uma empresa deve passar pelo ritual de boas-vindas. Uma forma de integrá-lo é por meio de um manual com as regras e o funcionamento da companhia. Além disso, a comunicação interna pode organizar ações para os funcionários se conhecerem melhor.

10 dicas para combater o turnover

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Artigo sobre turnover voluntário publicado em 30/outubro no portal Baguete:

Manoela Ziebell

O turnover voluntário de profissionais tende a ser algo negativo para os indivíduos, equipes e organizações.

Os indivíduos perdem a senioridade e algumas relações pessoais próximas.

As equipes, por sua vez, precisam se adaptar a novos contextos e relações de trabalho, além de atender a expectativa de entrega de resultados rápida e eficiente.

Já para as organizações, os custos financeiros para recrutar, contratar, e treinar um único trabalhador podem variar de 20% a 600% do salário anual orçado para cargo.

Os custos intangíveis da saída voluntária de profissionais também são motivo de preocupação: altas taxas de turnover podem levar à perda da memória organizacional e à ausência de mentores experientes para os novos membros da organização.

Podem ocasionar ainda, uma perda geral de eficiência e continuidade, bem como a exposição de segredos comerciais.

Mas como evitar que os profissionais deixem as organizações? Pesquisas apontam algumas estratégias eficazes para reter os profissionais nas organizações:

1 – Conhecer as expectativas dos colaboradores em relação à carreira e à vida pessoal.

2 – Discutir as possibilidades de desenvolvimento de carreira do profissional dentro da organização de forma assertiva: estabelecer metas, prazos, e requisitos.

3 – Evitar fazer promessas que não possam ser cumpridas (rompimento do contrato psicológico).

4 – Desafiar e estimular os profissionais na realização de seu trabalho.

5 – Respeitar a carga horária de trabalho dos profissionais.

6 – Preservar e promover o equilíbrio entre a vida pessoal do colaborador e suas atividades de trabalho.

7 – Criar e manter um bom clima de trabalho entre os colaboradores e com as lideranças. Embora pesquisas recentes demonstrem que cada vez menos os líderes são citados como motivo de saída voluntária dos profissionais, os resultados indicam que o bom relacionamento com a equipe é um importante fator de satisfação com a organização.

8 – Atentar para o mercado, pois ofertas consideradas interessantes (em termos de desafio, posição ou remuneração) são um dos principais motivos de saída das organizações.

9 – Remunerar adequadamente. Com maior acesso à informação e às oportunidades de mercado, os profissionais com frequência fazem trocas movidos pela remuneração.

10 – Reconhecer o trabalho realizado pelo profissional e seu investimento na própria carreira. A contraproposta quando o colaborador recebe oferta do mercado é mal vista e gera incômodo entre os profissionais

* Manoela Ziebell é líder da Prática de Análise de Turnover da Produtive

O novo emprego desapontou?

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Matéria veiculada na edição de maio da Você S/A, com participação de Rafael Souto, CEO da Produtive:

O que fazer quando o trabalho dos sonhos é uma grande decepção

Por Andrea Giardino

Em fevereiro, o designer americano Jordan Price conquistou fama momentânea ao publicar em seu blog um relato de sua breve experiência como funcionário da Apple na sede da empresa, em Cupertino, na Califórnia. Republicado pelo site Huffington Post, o texto havia passado em abril a casa das 22.000 curtidas e dos 3.000 compartilhamentos. Jordan revelou sua alegria por ter sido contratado e sua enorme decepção com o que encontrou nos bastidores da Apple. Seu chefe gritava e insultava a equipe e ameaça Jordan. O horário de expediente era longo e rígido. O excesso de reuniões drenava a produtividade. Após seis meses, envergonhado por ter de desistir, Jordan limpou sua mesa, deixou uma mensagem descascando o chefe, voltou para casa e escreveu o texto. “Só sei que eu queria muito trabalhar na Apple – e agora não quero tanto assim”, diz Jordan, nas últimas palavras de sua confissão.

O desapontamento com um emprego é uma situação comum, em geral causada por um descompasso entre expectativa e realidade. Uma pesquisa do site Glassdor, que reúne avaliações de empresas por funcionários, mostra que, de cada dez profissionais que mudaram de emprego recentemente, seis se depararam com uma rotina muito diferente da esperada. “As pessoas idealizam muito”, afirma Rafael Souto, sócio da Produtive, empresa de recolocação de Porto Alegre. Veja como se precaver de decepções no trabalho:

O mito da empresa perfeita

Para conquistar interessados em trabalhar nelas, muitas empresas promovem a imagem de que são lugares incríveis. Outras são marcas renomadas, que se aproveitam da reputação de seus produtos na captação de empregados, mesmo que internamente sejam ambientes ruins. “É natural que as empresas só mostrem o que têm de melhor. O problema é que muitas vezes as regras do jogo não ficam claras”, diz a coach Eliana Dutra, do Rio de Janeiro. “Uma empresa pode ser excelente para muitos, mas não para todos.”

Falta de identificação com a cultura

É natural se sentir um forasteiro nos primeiros dias de um emprego novo. Falta conhecer as pessoas e os inúmeros códigos informais que regem os relacionamentos corporativos. Se a sensação se prolongar, é sinal de que pode faltar identificação com a empresa. Aí é hora de avaliar se vale tentar uma adaptação, revendo alguns hábitos e analisando se suas crenças e seu estilo realmente são únicos e não podem ser mudados. Se a incompatibilidade for total, não adianta insistir.

Ambiente de forte pressão

O ambiente de forte pressão afeta inúmeros mercados. Pouca gente escapa dessa realidade. Encontrar nos primeiros dias um ambiente assim pode ser traumático, por mais que a pessoa saiba do estilo da empresa. O conselho é enfrentar o monstro. “O profissional precisa insistir um pouco antes de desistir”, diz Mara Turolla, diretora de coaching da consultoria Career Center, de São Paulo. “As decisões devem ser mais racionais e menos por impulso.”

Problemas com o chefe

Um estudo da consultoria Page Talent – que contrata estagiários e trainees – com 600 jovens entre 18 e 24 anos mostra que 52% não se preocupam em conhecer o perfil dos chefes antes de aceitar uma oferta. Tentar saber mais sobre o futuro líder ajuda a prever problemas no relacionamento. No convívio, a orientação é evitar o confronto. Se o caso for insuportável, deve-se tentar mudar de área, considerando que pode não haver outro lugar na empresa.

Promessas não cumpridas

“Muitos profissionais reclamam que, antes de entrar, a empresa vendeu uma imagem bem diferente da prática”, diz André Freire, presidente da Odgers Berndtson, empresa de recrutamento de executivos de São Paulo. Se isso ocorrer, o jeito é se virar com aquilo que está disponível e renegociar as metas com o chefe, explicando que precisa dos recursos que foram prometidos na entrevista.