O CEO da Produtive, Rafael Souto, fala sobre a tendência da Carreira 3.0 para o jornal de Fortaleza, O Povo.
Moacir Casemiro, 37, é consultor de projetos na área de engenharia de software e há quatro anos decidiu trocar a carreira em uma empresa para atuar por conta própria em diversas frentes. Hoje ele faz gestão e desenvolvimento de softwares de quatro ou cinco projetos de diferentes empresas, ao mesmo tempo. Muitas vezes de forma remota para outros estados. Também dá aulas em uma universidade particular de Fortaleza. “Eu decidi seguir este caminho pela questão do desafio, achei que iria ter mais espaço para crescer, fazer o que gosto”.
A remuneração aumentou em torno de 40%. Assim como as responsabilidades. Ele passou a ter de entender mais sobre planejamento e fluxo de caixa, ser mais organizado, investir em capacitação e em networking.
“A gente acaba fazendo também um trabalho comercial. É importante me apresentar bem, participar de eventos, fazer contatos, cuidar desta parte financeira e da qualificação. Afinal, o melhor produto de um consultor é o conhecimento dele”.
A gestão da própria carreira é uma tendência consolidada em países mais desenvolvidos, mas vem ganhando força, na última década, também no Brasil, explica o especialista em carreiras e CEO da Produtive Carreiras e Conexões com o Mercado, Rafael Souto. São nas carreiras 3.0 que o conceito de empregabilidade passa a dar espaço ao de trabalhabilidade.
“Até a década de 90, as empresas tinham organogramas muito maiores, mais opções de empregos, planos de carreira e o profissional ia fazendo um sequenciamento de cargos em uma única empresa. Com as mudanças do mercado de trabalho, isso mudou. As pessoas estão tendo que pensar em formas alternativas de gerar trabalho, não dá mais para pensar em um emprego para vida inteira”.
O cenário de crise, instabilidade econômica, reestruturação das empresas, surgimento de novas tecnologias e maior longevidade dos brasileiros ajudam a explicar este cenário. “As pessoas estão vivendo mais tempo e querem continuar produzindo. Chega uma fase em que o emprego fica mais difícil. O emprego não vai acabar, as empresas vão continuar contratando. Mas a ideia é que cada vez mais o indivíduo seja protagonista da própria carreira”.
O presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF – CE), Raul Santos, ressalta que independente de ter sido por necessidade ou escolha, este movimento pode ser positivo. “Tira um pouco da inércia, do mesmo modo de fazer e pensar as coisas. Sair da zona de conforto estimula a criatividade. Culturalmente também é positivo, vamos ter mais empreendedores e isso vai ter efeito dentro das famílias no longo prazo”.
Gestão da própria carreira
Ter um negócio próprio, investir em consultoria, conciliar um emprego com a docência, coworking e trabalho em rede são alguns caminhos que vêm sendo trilhados por quem procura um plano B. Este passo precisa ser planejado e mensurado para ter maior chance de êxito.
“O primeiro risco é o inerente ao empreendedorismo. É diferente de se estar trabalhando para alguém, porque ele assume o risco primário”, explica o presidente do IBEF, Raul Santos.
Também é importante não esperar a urgência bater à porta, como a perda de um emprego ou o aperto financeiro, para começar a pensar em alternativas. “O ideal é pensar em quais são as minhas aptidões, os caminhos que podem ser explorados no mercado de trabalho”, recomenda o especialista em carreiras, Rafael Souto.
No caso da empresária e consultora financeira, Samara Prudêncio, 38, que vinha de uma sólida carreira no mercado financeiro e já tinha passado pelos quatro maiores bancos privados do País, a decisão de redirecionar a carreira para atuar por conta própria veio após o nascimento da filha, hoje com quatro anos.
Ela já vinha conciliando a função no banco com a sociedade na Cartola Comunicação, empresa de comunicação digital, que montou vislumbrando o crescimento do e-commerce no Brasil. Depois que saiu, passou a dedicar mais tempo à atividade, além de prestar consultoria para o Sebrae, na área financeira, em planejamento estratégico e em planos de negócios. “Hoje eu trabalho mais em casa, vou aos clientes e faço acompanhamento mais via Skype. Se tiver alguma reunião presencial, eu me desloco”.
Como vantagens ela diz que passou a ter mais flexibilidade de horários, mais prazer no trabalho e qualidade de vida. “O que não quer dizer menos trabalho”. Por outro lado, o tempo de maturação, a sazonalidade e a necessidade de ter de fazer garantias por conta própria (antes cobertas pelos benefícios da carteira assinada) são desafios.