A carreira não surge, é construída. A célebre frase do pesquisador Mark Savickas ilustra a importância da elaboração de estratégias para o desenvolvimento da vida profissional.
No passado, o plano de carreira da empresa era o guia de desenvolvimento e construção da trajetória profissional. Funcionava como uma trilha definida pela companhia. Um caminho estabelecido para crescer. Esse modelo sucumbiu pela imprevisibilidade das estruturas decorrente da velocidade de transformação dos negócios. Nenhuma empresa consegue prometer evolução profissional. As estruturas estão cada vez mais enxutas. Os movimentos de carreira dependem dos espaços organizacionais que aparecem à medida que o negócio evolui. A redução de níveis e a constante busca de eficiência aniquilou as promessas de longo prazo e o crescimento linear.
Neste cenário, como construir estratégias que acelerem a carreira?
Em um artigo recente publicado na Harvard Business Review, o norte-americano Whitney Johnson afirma que as carreiras se diferenciam pela habilidade em escolher os riscos certos. Isso quer dizer que trata-se de assumir o controle da carreira e buscar as zonas não exploradas.
Para ilustrar esse movimento, Whitney cita o exemplo de Stephen Curry, atleta da NBA considerado o melhor arremessador da história do esportes, por se especializar em arremessos de três pontos de áreas que poucos se arriscam. Curry construiu um espaço único, no qual poucos defensores costumam bloquear.
Construir zonas de diferenciação na carreira não significa fazer mudanças radicais ou mudar o foco. Ao contrário, significa buscar espaços não ocupados ou fazer a leitura de tendências da área.
Em minha experiência de 26 anos trabalhando com aconselhamento de carreira, chamo este movimento de zona de ampliação da área-foco. Assim como os negócios se transformaram profundamente nos últimos anos, as áreas de atuação também sofrem mudanças. Avaliar essas transformações e incorporar novas habilidades é uma potente estratégia de aceleração da carreira.
Como exemplo, vamos considerar um profissional da área contábil. O clássico contador guarda-livros era um profissional procurado no século passado. Essa atividade vem se reformulando e ele deixou de ser um profissional relevante. Mas, isso não significa que a área contábil perdeu seu espaço nas empresas. Se um profissional dessa área identificou a atividade de controladoria como um espaço de oportunidade e se transformou no “controller”, certamente, manteve sua competitividade. Controladoria é uma das funções mais procuradas no mercado. Não foi o contador que morreu, mas, sim, o contador guarda-livros. O controller está mais vivo do que nunca.
Todas as áreas sofrem mudanças ao longo do tempo e o profissional precisa estar atento às transformações e fazer escolhas para incorporar novos conhecimentos.
O consultor britânico John Buchan afirmava para aqueles que querem crescer: “encontre o gap”. Algo como: encontre espaços nos quais possa fazer algo novo.
Avaliar esses espaços e assumir os riscos para buscar esse novo posicionamento de carreira é um desafio do profissional contemporâneo.
Mas, para fazer esse mapa de tendências é preciso curiosidade. A professora italiana Francesca Gino estuda essa competência. Segundo ela, o protagonismo na carreira exige curiosidade para pesquisar e explorar novos caminhos profissionais. No entanto, seus estudos mostram que apenas 15% dos profissionais se sentem com autonomia para explorar e pesquisar algo novo. É como se esperassem a sinalização da empresa ou do chefe.
A dinâmica intensa do mercado não permite mais isso. Ter um líder que faça sugestões e encoraje para a busca de novos conhecimentos é uma dádiva. Mas, nenhum profissional pode se vitimizar e deixar de assumir o controle de sua trajetória. Afinal, é responsabilidade de cada um construir suas narrativas de carreira.