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O último Czar corporativo pode estar na sua empresa

Há muito o que aprender com as lições de má liderança que tivemos em séculos passados. Em novo artigo para o Valor Econômico, o CEO da Produtive, Rafael Souto, mostra quais os aspectos de gestão que podem bloquear a transformação dos negócios. 

A dinastia da família Románov dominou o poder na Rússia por mais de 300 anos. Em 1917, com a Revolução Popular, os últimos Románovs foram destituídos do poder e brutalmente assassinados. A saga do poder da família já virou série de TV e livros sendo descrita por diversos autores, entre eles o best seller “Os Románov”, do autor Robert K. Massie.

O Czar era o representante supremo do poder, ditava todas as regras e tomava as decisões. Ele precisava se manter forte e incansável na gestão do vasto Império Russo. Nicolau Románov foi o último Czar da Rússia. Em sua turbulenta gestão, tomou várias decisões equivocadas que lhe causaram a própria vida e a queda da dinastia de sua família.

Pouco preparado para o poder e com doses de prepotência exacerbada, iniciou guerras que custaram muito ao império e à sua credibilidade como líder. Aceitava pressão de conselheiros que tinham sua agenda pessoal acima das necessidades do povo e acentuavam o distanciamento de Nicolau com o acontecia nas cidades e no campo.

Nos momentos em que poderia ouvir a população, Nicolau seguiu sua cega e conturbada administração, deixando o povo furioso e fazendo crescer movimentos que vieram à tona e culminaram com a Revolução de 1917, quando ele foi expurgado brutalmente do poder.

O mundo corporativo pode estar distante da turbulenta Rússia do início do século XX, mas ainda cultuamos o líder super-homem.

Como um Czar no poder, o CEO de muitas empresas ainda precisa tomar todas as decisões, ser forte e imponente no trono do poder. Isolado numa sala suntuosa com diversas instâncias para bloquear o acesso direto. E muitas empresas ainda operam como cortes a serviço de um Czar tirano e solitário.

Como todo o líder que fica isolado, sua gestão passa a ser baseada em informações nem sempre verdadeiras e com alto grau de manipulação.

A centralização do poder é um drama corporativo que trava a organização e gera uma miopia na qual a leitura de cenário fica comprometida. A velocidade da empresa também é reduzida quando os níveis de aprovação são centralizados na alta gestão.

Os autores do livro “Hidden Value. How great companies achieve extraordinary results with ordinary people” (em tradução livre: Valor Escondido. Como grandes empresas atingem resultados extraordinários com pessoas comuns), Jeffrey Pfeifer e Charles O’Reilly, mostram que existem cada vez mais evidências de que a delegação de poder aumenta a produtividade, a moral e o comprometimento das pessoas. Eles citam um estudo do Instituto Gallup, que entre 2015 e 2018 estudou mais de 500 empresas e observou que 143 CEOs que mais delegavam autoridade conseguiam melhores resultados e os negócios que dirigiam cresciam mais rapidamente.

Em seu livro, “A Arte de Formar Líderes”, John C. Maxwell também mostra o papel da descentralização do poder, construção de sucessão e desapego ao poder. Ele diz que pequenas tarefas podem ser feitas individualmente, mas grandes atividades e com velocidade cada vez maior, exigem construção de grupos fortes e autônomos.

A transformação dos negócios exige uma nova forma de organizar o trabalho. O modelo hierárquico tradicional está em crise. Em algumas empresas já foi eliminado, mas em todas entrará em colapso se não construímos novas formas para dar agilidade e empoderamento às pessoas.

As novas dinâmicas de trabalho chamadas de squads e hubs ganham mais espaço. Suas metodologias são baseadas em modelos ágeis que transferem o poder para os grupos e retiram a decisão da cúpula da empresa. A crença central dessa mudança, está na ideia de que as pessoas podem contribuir mais do que seus cargos e que muitos projetos e atividades necessários para o desenvolvimento da empresa podem ser feitos de forma mais rápida e colaborativa.

Em empresas acostumadas com um Czar e sua corte de diretores, será impossível construir essa mudança. Diferente da Revolução Russa que eliminou o cambaleante Nicolau Romanóv do poder, nas organizações lideradas por um líder solitário e poderoso será o mercado em sua sábia e soberana evolução que eliminará os absolutistas do topo das empresas. A revolução mais dura é aquela determinada pelos consumidores que irão buscar as novas organizações para realizar seus desejos e associarem sua marca pessoal.

 

Fazer MBA turbina a carreira, mas é preciso paciência

Investimento em formação acadêmica retorna no médio prazo; pesquisa mostra alta de salário após titulação.

 

É caro fazer MBA no Brasil. A média de preço dos programas em 2017 (último dado disponível) era de R$ 31.788, de acordo com números da NOZ – Pesquisa e Inteligência e da Anamba (Associação Nacional de MBA).

Segundo Rafael Souto, diretor-executivo da Produtive, empresa de recolocação, alguns profissionais esperam, após o alto dispêndio, uma valorização imediata da carreira, o que não costuma ocorrer.

“Investimentos académicos dão retorno a médio prazo. E o ganho vem pela entrega que a pessoa dá no trabalho, não necessariamente pela titulação. No MBA, você aprende ferramentas para conseguir gerar resultados.”

Preço de um curso de MBA no Brasil

Média salarial

Há, sim, ele frisa, uma vantagem do profissional com MBA numa disputa de vaga, mas apenas se a experiência dos candidatos for a mesma. Pouco adianta, portanto, fazer um programa desse tipo sem bagagem profissional.

Por isso, Souto não aconselha um recém-formado a buscar essa pós-graduação.

A recomendação dele é que a pessoa procure fazer uma especialização em primeiro lugar para só mais adiante, com dois ou três anos de trabalho, ir atrás de um MBA.

Vanessa Lopes, superintendente de educação executiva da FGV, concorda. “O ganho do MBA, além do conteúdo em si, é a troca com os colegas de classe. Se a turma é homogénea, formada por profissionais que já estão no mercado há algum tempo, as trocas tendem a ser melhores”, afirma.

Durante o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de seu mestrado, feito na própria instituição em que trabalha, no ano passado, Vanessa pesquisou a relação entre salário e MBA de ex-alunos da instituição de ensino.

De um universo de 15 mil pessoas, que fizeram os programas na FGV entre 2012 e 2017, o resultado foi que, em média, o ganho mensal do profissional aumentou 24% depois da pós-graduação.

“Isso aconteceu porque houve uma migração para cargos de gestão. Muitos deixaram de ser analistas ou supervisores e se tornaram coordenadores ou gerentes”, diz.

Guilherme Filgueiras, gerente sênior da empresa de recrutamento e seleção Michael Page, por outro lado, não enxerga o MBA como um diferencial que tende a garantir recolocação rápida ou valorização profissional.

“E importante se você foca só uma área e quer se especializar apenas nela, mas hoje se valoriza o profissional multitarefas. Não precisa ter uma profundidade extrema num determinado tema para atuar” diz.

De acordo com ele, quem faz várias pós-graduações, em áreas correlatas, porém diferentes, tende a ter mais oportunidades de crescimento.
Souto, da Produtive, diz que os MBAs deveriam fazer esse papel. “A origem do MBA é generalista. No Brasil, criou-se essa aberração desses programas setorizados. Quem quer se aprofundar só numa área deve buscar especialização.”

Vanessa, da FGV, também tem críticas aos programas divididos em áreas específicas.
Existem programas com foco em marketing, finanças, projetos etc. Os MBAs deveriam trabalhar mais a liderança e as soft-skills (competências socioemocionais)”, afirma.