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Quais as principais causas do turnover?

O turnover sempre existiu, mas nos últimos meses as empresas têm enfrentado um aumento considerável dos pedidos de demissão. O motivo: a grande maioria dos profissionais não quer mais voltar aos modelos tradicionais de trabalho. Rafael Souto, CEO da Produtive, participa da reportagem da BandNews TV, ao lado de Juliana Santana Moraes, Gerente de DHO na Wickbold, e contribui com o tema, trazendo pontos importantes sobre o aumento da rotatividade, dicas de como minimiza-la, os principais desafios das lideranças e organizações, e muito mais. Assista a reportagem na íntegra:

 

 

 

Plano de carreira: o que é e como montar uma trajetória de sucesso

O plano de carreira previsível e baseado em definições claras sobre crescimento, oferecido pela organização, já não existe mais. Hoje, o profissional precisa ser cada vez mais protagonista e desenhar o seu próprio plano de carreira para obter sucesso e alcançar seus objetivos profissionais. Em reportagem para o Valor Econômico,  Rafael Souto, CEO da Produtive, contribui com o tema com dicas importantes para a construção de uma trajetória de sucesso.

Um plano de carreira é a relação de experiências e atividades associadas ao trabalho de determinada pessoa durante o período de sua vida. A forma como os profissionais constroem esse plano depende do objetivo profissional, da estrutura na qual trabalham (startups, grandes empresas, empreendedorismo, setor público, terceiro setor ou autônomos) e dos recursos que têm disponíveis (próprios ou corporativos).

Até os anos 90, as empresas possuíam estruturas organizacionais mais fixas ou um grande número de níveis hierárquicos. O que significava, analisa Rafael Souto, CEO da Produtive, que profissionais delegavam muitas vezes a sua construção de carreira às empresas. Estas, por sua vez, determinavam quais cargos as pessoas deveriam ocupar, habilidades que eles precisavam ter, formações complementares.

Diziam quem deveria virar líder e a escadinha era clara: do estágio ao analista, do coordenador ao gerente, do diretor ao CEO. E as pessoas normalmente faziam uma carreira em uma organização. “É um modelo tradicional que ainda vigora em muitas organizações, onde há clareza do que as pessoas precisam apresentar e onde podem chegar se entregarem resultados”, diz Vanessa Cepellos, professora de gestão de pessoas da FGV-EAESP.

Mas a globalização, a ascensão da internet (e a consequente demanda por novas habilidades e redesenho de profissões), além de um cenário geral de maior imprevisibilidade de negócios levaram as empresas a reverem os planos de carreira. “Não dá para muitas delas hoje prometerem um nível sênior daqui dois anos se elas nem sabem se aquela função vai existir”, diz Souto.

Na última década no Brasil, principalmente, começou-se a falar em “narrativa do indivíduo”, onde os profissionais precisam ser protagonistas de sua própria construção de carreira – independentemente se estão em uma grande organização ou não, avalia Bruno Andrade, professor da Saint Paul Escola de Negócios, especializado em liderança.

A carreira não será mais baseada majoritariamente em uma sequência de cargos, mas em experiências significativas e acumulativas. “Algo mais ligado a ser polivalente, de trabalhar em várias coisas ou áreas e entregando coisas diferentes”, diz José Augusto Figueiredo, country head do Grupo Adecco.

Cada empresa se adaptou a essa nova noção de uma forma: oferecendo uma formação mais personalizada, criando estruturas mais horizontais onde os talentos se movam na direção que quiserem, mudando incentivos relevantes à sua promoção e reconhecimento ou até mesmo redesenhando cargos.

À parte do pano de fundo ao qual o funcionário está exposto, especialistas defendem que é preciso chamar para si a responsabilidade de construir um bom plano de carreira. E eles dão oito dicas para criar o protagonismo da carreira e traçar os passos rumo ao sucesso profissional.

1. Faça uma autorreflexão

“O primeiro passo para pensar a carreira é: qual sonho você tem? Quais vontades? Que projetos gostaria de abraçar? Onde gostaria de gerar impacto?’ diz Figueiredo.

“Essa reflexão servirá como guia para tomada de decisão de mudar de uma empresa, de pedir para trocar de área e de não se frustrar com uma movimentação lateral – onde o profissional muda de função, mas não necessariamente ‘sobe’ na hierarquia”, diz o executivo. Essa reflexão também precisa levar em conta demandas de vida (satisfação, equilíbrio e interesses) e, se possível, uma reserva financeira para conseguir se movimentar de forma mais estável, afirma Souto.

2. Faça uma reflexão externa
Conversar com profissionais nos quais você confia perguntando a eles quais são seus pontos fortes e ouvir suas histórias de carreira pode ajudar a traçar prioridades e mudanças, diz Souto. “É preciso buscar narrativas fora para você se inspirar a criar a sua.”

3. Seja flexível no plano
O plano de carreira não pode ser rígido porque a vida muda, o acaso abre novas oportunidades e os valores e desejos das pessoas também se modificam, diz Cepellos. É preciso ter um pé no futuro e outro no presente, até para aproveitar oportunidades que surgem no caminho e definirão todo o resto.

“Monte o plano com temas importantes para o longo prazo. Mas revisite sempre o curto prazo. Olhe para sua carreira e pense: eu estou feliz hoje? Preciso fazer um novo curso para abrir uma nova oportunidade? Devo me expor mais? É combinar um plano com o fluxo natural de carreira e de vida.”

— Bruno Andrade, professor da Saint Paul Escola de Negócios

4. Construa seu mapa de competências
Ao revisitar esse plano no curto prazo, entenda se ele está te levando aonde gostaria de estar no longo prazo e quais competências o ajudariam a chegar lá. “Se você quer trabalhar fora e não possui um idioma, por exemplo, é preciso começar a desenvolver essa habilidade muito antes de materializar o plano final”, diz Andrade. Conversar abertamente com o gestor direto sobre quais habilidades você gostaria de desenvolver também é válido. “Às vezes, a empresa tem muitos recursos para o desenvolvimento do profissional, mas ela não sabe que ele gostaria de mudar de área ou função e as pessoas têm receio de falar.”

5. Estude tendências e movimentos de mercado
É possível se preparar para ser mais competitivo no futuro do trabalho mesmo que esse futuro não esteja ainda muito claro. Souto exemplifica:

“O contador dos anos 80 era guarda-livros e essa área morreu. Mas os contadores que avaliaram tendências à época e foram estudar controladoria estão muito bem hoje porque controller é uma das funções mais buscadas hoje. Não foi o contador que morreu, mas o guarda-livros.”

Incorpore tendências da área. Atualmente, por exemplo, é exigido dos profissionais habilidades não somente técnicas, mas comportamentais. “Tolerância a frustração, respeito às diferenças, inteligência emocional e abertura ao diálogo estão em alta”, diz Solto. O CEO da Siemens no Brasil, Pablo Fava, disse ao Valor, por exemplo, que hoje 70% de seu tempo é gasto se relacionando com funcionários e clientes, entendendo como criar um cenário onde todos consigam construir um impacto maior.

6. Avalie e reavalie ciclos
Não se prenda à quantidade de anos para se certificar se um ciclo de carreira foi bem realizado ou precisa ser finalizado, diz Souto. “Se você estiver feliz com o que faz e a empresa com os resultados, um ciclo pode durar dois, três anos ou até dez na mesma posição. Não há tempo certo. O que é preciso é reavaliar periodicamente seus ciclos e buscar algo novo – dentro ou fora – se você sentir que caminha como gostaria.” A headhunter Fatima Zorzato usa a analogia de um rio para a jornada profissional para dizer que muitas vezes é preciso “saltar’, buscando novos desafios e experiências, para não “ficar preso nas árvores que margeiam o caminho da correnteza”.

7. Entenda o que é progresso para você
À medida que as empresas criam estruturas horizontais, eliminam cargos e mudam a jornada do colaborador, é possível que elas alterem também estruturas de reconhecimento, promoção e incentivo, diz Cepellos. À parte da questão de
remuneração, o profissional precisará aprender a lidar com novas formas de progresso – que não necessariamente se medem por uma subida na hierarquia. “E isso vai depender muito do que os satisfaz”, diz.

“Há pessoas que sentem que estão progredindo quanto estão se desenvolvendo, outras quando estão aprendendo muito, outras quando conseguem transitar em diversas empresas e áreas e há ainda aquelas que simplesmente estarão se sentindo bem-sucedidas ao finalmente conseguirem conciliar trabalho com vida pessoal”, afirma Cepellos.

8. Preciso ter plano B sempre?
Com a expectativa de vida aumentando, é muito provável que as pessoas precisem pensar em mais transições de carreira e tenham até três carreiras completamente diferentes ao longo da vida, diz Cepellos. Andrade diz que é uma tendência alta no mercado muitos profissionais irem construindo uma nova carreira (B) em paralelo à atual (A), sem esperar que A seja concluída ou encerrada abruptamente. Ele mesmo é executivo em uma multinacional e concilia a atuação como professor na escola de negócios. “E é possível fazer isso construindo várias carreiras dentro da atual, revisitando o plano periodicamente e buscando qualificações e competências que você acha que serão relevantes. É assim que se vai abrindo caminho.” Maria Silvia Bastos ex-presidente do BNDES, da CSN e da Icatu Seguros diz que todas as experiências que vivenciou ao longo da vida a qualificaram para oportunidades seguintes. “Minha dica é viver ao máximo cada experiência profissional, aprendendo tudo que puder sobre aquele tema, porque aquilo vai ser útil em um próximo momento da vida.”

Empresas nos EUA adiam volta ao escritório

Os profissionais não querem saber dos modelos tradicionais de trabalho e vão levar a sério seu poder de escolha dentro das organizações. Em matéria do Valor Econômico, Rafael Souto, CEO da Produtive, contribui com sua visão modelos de trabalho e desenho de vida das pessoas.

As empresas começam a anunciar seus planos de retorno ao escritório, mas a verdade é que essa volta ao modelo presencial de trabalho ainda é incerta. Uma nova pesquisa feita pela consultoria de recrutamento executivo Korn Ferry nos Estados Unidos mostrou que mais da metade dos profissionais entrevistados (54%) disse que as empresas onde trabalham mudaram os planos de retorno ao escritório em função do aumento de casos de covid.

Quando perguntados sobre quando acham que o retorno deve acontecer, 22% responderam que não será antes de 2022 e 32% disseram “nunca”. Uma outra parcela, de 20%, já está em período integral no escritório e 26% acreditam que voltam até o fim do ano.

Quando (e se) o retorno ao modelo presencial acontecer, os protocolos de prevenção à covid continuarão em vigor, na visão dos entrevistados. Quase um terço dos profissionais (32%) disse que vacinas e testes negativos para covid-19 serão exigidos antes que o empregado seja autorizado a voltar ao escritório. Para 73%, máscaras serão necessárias quando as pessoas estiverem em locais fechados.

Elise Freedman, líder da prática de transformação da força de trabalho e estratégia organizacional da Korn Ferry, disse, ao comentar o estudo, que se os empregados sentirem que seus empregadores não estiverem levando a sério o bem-estar dos funcionários eles deixarão o emprego em busca de outra empresa que tome os cuidados esperados.

A pesquisa ouviu 378 profissionais em agosto. Em sua coluna de setembro, publicada no Valor, Rafael Souto, sócio-fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado, afirma que os funcionários não querem voltar ao normal. Isso porque as pessoas desenharam um novo modelo de vida, do qual não querem abrir mão.

Ele cita algumas pesquisas, incluindo uma feita pela Fundação Dom Cabral no Brasil. No levantamento, 75% dos profissionais pesquisados querem trabalhar em home Office, com a opção de escolherem frequência de dias de trabalho presencial, conforme a necessidade, sem modelos rígidos.

“Nas áreas em que a oferta de trabalho supera o número de pessoas qualificadas será impossível impor um modelo de retorno ao sistema antigo”, afirma. “Por essa razão é que discursos rígidos não são mais aceitáveis. Líderes com esse perfil assistirão uma avalanche de talentos darem adeus e ficarão acompanhando seus negócios envelhecerem com uma saudade melancólica de um mundo que já não existe mais.”

Executivos demitidos por conta da covid-19 buscam recolocação

Por um lado, alguns setores estão contratando e abrindo novas oportunidades de trabalho, e no outro lado, há segmentos que estão sendo muito prejudicados com a crise. Nesses mercado alguns executivos foram obrigados a procurarem por recolocação. O CEO da Produtive, Rafael Souto, é entrevistado pelo Valor Econômico e fala sobre o mercado de trabalho e as estratégias de recolocação para este momento delicado.

Profissionais migram para setores mais estáveis, aceitam trocar de cargo e até reduzir salários.

Abril foi o último mês de Beatriz Oliveira, 37 anos, como diretora geral para a América Latina da Eventbrite, plataforma de organização de eventos. Presente em mais de 100 países, o grupo chegou a realizar 3,9 milhões de promoções em 2018. No Brasil, acaba de demitir seus 40 funcionários.

“Com a pandemia, o setor parou”, explica a executiva, que estava na companhia há dois anos, depois de atuar em corporações como Oracle e IBM. Agora, desempregada, começa a planejar a volta ao mercado. “Se puder escolher, continuo no ramo das startups, mais abertas a novos perfis profissionais e com modelos de gestão colaborativos”. Em uma semana, ela foi sondada por quatro empresas e três headhunters.

A ex-diretora faz parte de um contingente de profissionais que, diante dos desdobramentos da covid-19, se viram sem trabalho, tiveram de migrar para setores mais estáveis da economia, trocar de cargo ou aceitar reduções de salários. Em poucos dias, muitos foram obrigados a acionar um “plano B” diante de cenários inéditos de empregabilidade.

Somente no segmento de Beatriz, de marketing e gerenciamento de eventos, estima-se que milhares de empregos diretos e indiretos já foram impactados pela necessidade de isolamento social. Um estudo da Associação de Marketing Promocional (Ampro) realizado com 37 agências do setor entre 30 de março e 6 de abril indica que 27% delas enfrentavam o cancelamento de atividades. Entre as que planejavam fazer cortes, 35,3% afirmaram que a redução será de até 25% do quadro, 14,7% podem desligar até 50% e 5,9% pensam em dispensar mais da metade das equipes.

Rafael Souto, CEO da Produtive, consultoria especializada em recolocação de executivos, afirma que ainda é cedo para mensurar o efeito completo da crise no mercado de trabalho, mas os primeiros sinais de transformação já aparecem. “Estamos em uma primeira onda de mudanças”, diz. Entre os clientes que procuram os serviços da consultoria, houve um aumento de 20% no volume de profissionais demitidos, ante o período pré-pandemia, e de 15% na quantidade de empregados em setores impactados, como turismo e varejo, que querem orientações sobre o futuro de suas carreiras.

A pressa para identificar logo uma nova opção de trabalho não é injustificada. Um levantamento da Produtive com 100 empresas de médio e grande porte indica que 40% delas já aplicaram redução de jornada e de salário por conta dos desdobramentos da covid-19. Na visão de Souto, mesmo com a gravidade do cenário econômico, é preciso algum planejamento para não prejudicar o histórico de carreira desenhado pelos profissionais.

“São caminhos que não podem ser alcançados com apenas um passo”, diz. Muitas vezes é necessário ingressar em uma empresa por conta de competências do currículo e, em uma segunda recolocação, buscar a posição realmente desejada. “É o que chamamos de estratégia em dois movimentos, para viabilizar um projeto de mudança.” Souto lembra que profissionais experientes têm mais condições de emplacar novos planos agora, até sem um crachá no pescoço. “Consultoria e empreendedorismo entram nesse contexto”, avisa.

É o caso de Fernando Augusto da Silva, 35 anos, demitido recentemente de uma multinacional do setor automotivo. Gerente de serviços, liderava uma equipe de 50 pessoas e era responsável por atividades que envolviam faturamento e produção. “Devido à covid-19, a direção teve de fazer redução abrupta de despesas”, diz o executivo, que tinha 14 anos de empresa. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a paralisação do comércio e fábricas na segunda quinzena de março já resultou em uma queda de quase 90% nas atividades do setor.

Em casa, Silva atualiza leituras sobre empreendedorismo e acompanha lives de economistas e CEOs. Também já procurou uma consultoria de recolocação de carreira. “Quero me adaptar o mais rápido possível a esse novo ‘normal’ do mercado”, diz o executivo, dono de um diploma de MBA em gestão comercial. O principal interesse agora é empreender, diz. Uma das ideias é atuar com consultoria na área automotiva. “Mas também posso mudar totalmente de setor.”

Na SumUp, fintech de máquinas de cartão para micro e pequenos negócios, especialmente atingidos pelo isolamento social, a dança de cadeiras começou na segunda metade de março. O objetivo é realocar funcionários de diferentes áreas para projetos vitais ao negócio, explica Paula Fonseca, 33. A executiva deixou a chefia de aquisições de talentos e assumiu a gerência sênior para projetos de finanças.

A área é um dos principais pilares do plano de resposta da SumUp à crise causada pelo coronavírus, diz. “Queremos que os clientes consigam receber de uma só vez as vendas que fazem no crédito parcelado”, explica. “Para muitos, é uma questão de sobrevivência.”

De acordo com a gerente, há dois anos na companhia, o time de finanças tinha estrutura técnica para tocar o projeto, mas faltava alguém que alinhasse estratégias. A SumUp conta com dois mil funcionários e operações em 31 países – 900 estão no Brasil. “Topei o desafio porque poderia exercitar habilidades de negociação e de resolução de problemas.”

A experiência no novo departamento está rendendo aprendizados, assegura. “Se e quando eu regressar para a área de recrutamento, voltarei com outra mentalidade”, diz Paula. “Entendi que a carreira não precisa evoluir de forma linear.”

É preciso negociar antes de ingressar no novo emprego

Dependendo da área e da situação, especialistas recomendam não aceitar uma redução salarial tão drástica para retornar ao mercado.

Mesmo em tempos de depressão no mercado de trabalho, é possível negociar com a chefia antes de assumir um cargo menor, mudar de área ou ingressar em uma nova empresa. O temor de desemprego subiu, principalmente em segmentos relacionados a turismo, varejo e aviação. Por outro lado, setores como infraestrutura, agronegócio, ecommerce e saúde podem ser novos destinos para quem foi desligado.

Na opinião de Rafael Souto, CEO da consultoria Produtive, o salário é um componente de peso, mas não o único a ser levado em conta ao aceitar uma proposta. “Deve-se analisar a reputação do empregador”, diz. “Conversar com pessoas que conhecem a organização e avaliar seu contexto atual de mercado é essencial.”

Marcelo Ferrari, diretor de negócios da Mercer, não recomenda, a princípio, uma mudança de carreira durante a crise da covid-19. Ele diz que só vale a pena se o executivo estiver correndo risco de demissão em uma empresa afetada pela diminuição da atividade econômica. Mesmo assim, explica, ele deverá escolher um setor que não está sofrendo com os reveses da pandemia, como o de alimentos, o farmacêutico e de tecnologia.

“O ‘plano A’ hoje é preservar o emprego, mesmo com redução de remuneração, mostrando competências como orientação para resultados e capacidade de adaptação”, diz. “Não aconselho ninguém a abrir um negócio, a não ser que seja algum serviço absolutamente necessário no momento.”

Ferrari lembra que executivos considerados de alto desempenho geralmente sobrevivem a ciclos duros de recessão porque são cruciais para ajudar as companhias a vencerem dificuldades com rapidez. “As empresas também precisam estabelecer mecanismos para reter esses talentos e evitar perdê-los para companhias menos afetadas pelos problemas da covid-19.”

Na XP Inc., da área de investimentos, o plano é abrir, pelo menos, 600 novas posições este ano. O objetivo é chegar ao final de 2020 com 3,1 mil funcionários, um crescimento de 25% em relação ao quadro de 2,5 mil funcionários. A companhia busca currículos para as áreas de atendimento ao cliente e tecnologia, com salários entre R$ 5 mil e R$ 20 mil.

De acordo com Camila Marchi, líder de sourcing da XP Inc., na primeira quinzena de abril foram contratadas 102 pessoas, a maioria em processos de seleção em andamento antes do agravamento da pandemia. A faixa etária média do grupo é de 31 anos. Pelo menos dois recém-admitidos foram dispensados dos antigos empregadores por decorrência da crise, diz. “O importante é estarmos preparados para retomar os negócios quando a crise passar.”

Na visão de Ferrari, da Mercer, o valor de um executivo se mostra em momentos difíceis. “Quem conseguir provar capacidade de trabalho e liderança será valorizado e poderá ter a carreira alavancada depois da pandemia.”

Fazer MBA turbina a carreira, mas é preciso paciência

Investimento em formação acadêmica retorna no médio prazo; pesquisa mostra alta de salário após titulação.

 

É caro fazer MBA no Brasil. A média de preço dos programas em 2017 (último dado disponível) era de R$ 31.788, de acordo com números da NOZ – Pesquisa e Inteligência e da Anamba (Associação Nacional de MBA).

Segundo Rafael Souto, diretor-executivo da Produtive, empresa de recolocação, alguns profissionais esperam, após o alto dispêndio, uma valorização imediata da carreira, o que não costuma ocorrer.

“Investimentos académicos dão retorno a médio prazo. E o ganho vem pela entrega que a pessoa dá no trabalho, não necessariamente pela titulação. No MBA, você aprende ferramentas para conseguir gerar resultados.”

Preço de um curso de MBA no Brasil

Média salarial

Há, sim, ele frisa, uma vantagem do profissional com MBA numa disputa de vaga, mas apenas se a experiência dos candidatos for a mesma. Pouco adianta, portanto, fazer um programa desse tipo sem bagagem profissional.

Por isso, Souto não aconselha um recém-formado a buscar essa pós-graduação.

A recomendação dele é que a pessoa procure fazer uma especialização em primeiro lugar para só mais adiante, com dois ou três anos de trabalho, ir atrás de um MBA.

Vanessa Lopes, superintendente de educação executiva da FGV, concorda. “O ganho do MBA, além do conteúdo em si, é a troca com os colegas de classe. Se a turma é homogénea, formada por profissionais que já estão no mercado há algum tempo, as trocas tendem a ser melhores”, afirma.

Durante o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de seu mestrado, feito na própria instituição em que trabalha, no ano passado, Vanessa pesquisou a relação entre salário e MBA de ex-alunos da instituição de ensino.

De um universo de 15 mil pessoas, que fizeram os programas na FGV entre 2012 e 2017, o resultado foi que, em média, o ganho mensal do profissional aumentou 24% depois da pós-graduação.

“Isso aconteceu porque houve uma migração para cargos de gestão. Muitos deixaram de ser analistas ou supervisores e se tornaram coordenadores ou gerentes”, diz.

Guilherme Filgueiras, gerente sênior da empresa de recrutamento e seleção Michael Page, por outro lado, não enxerga o MBA como um diferencial que tende a garantir recolocação rápida ou valorização profissional.

“E importante se você foca só uma área e quer se especializar apenas nela, mas hoje se valoriza o profissional multitarefas. Não precisa ter uma profundidade extrema num determinado tema para atuar” diz.

De acordo com ele, quem faz várias pós-graduações, em áreas correlatas, porém diferentes, tende a ter mais oportunidades de crescimento.
Souto, da Produtive, diz que os MBAs deveriam fazer esse papel. “A origem do MBA é generalista. No Brasil, criou-se essa aberração desses programas setorizados. Quem quer se aprofundar só numa área deve buscar especialização.”

Vanessa, da FGV, também tem críticas aos programas divididos em áreas específicas.
Existem programas com foco em marketing, finanças, projetos etc. Os MBAs deveriam trabalhar mais a liderança e as soft-skills (competências socioemocionais)”, afirma.