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O futuro do trabalho

Em seu novo artigo para o jornal Zero Hora, Rafael Souto mostra quais são os principais passos para o profissional não ficar refém da revolução digital.

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Reconheço que há inúmeras pesquisas de futurologia que tentam evidenciar a substituição do profissional por robôs. Isso nos leva a imaginar uma cena de filme hollywoodiano em que um mocinho tem de enfrentar máquinas malvadas em prol da existência da humanidade.

Longe de querer aprofundar nesses números apocalípticos, tampouco de me aventurar como cineasta, proponho um novo pensar.

As transformações que temos visto não deixam de ser inquietantes. É fato. Mas, precisam levar o profissional a refletir qual é o seu papel e em qual lugar do mundo ele pode ser aproveitado.

O primeiro passo é assumir o protagonismo na carreira. Isso significa parar de reclamar das oportunidades que nunca chegam nas empresas e movimentar os seus próprios pauzinhos. Ser o dono da pista. Deixar a ideia retrógrada de plano de carreira das empresas na lembrança.

Na carona, deparamos com o divã das reflexões. É quando o pensar nos valores e na definição de propósitos passam a ser decisivos para a felicidade do indivíduo. Há uma pesquisa da revista Harvard Business Review, na qual revela que apenas 3% das pessoas pesquisadas tinham um plano de ação para suas vidas, sendo que esses 3% detinham 90% da renda de todos os entrevistados.

Por isso, não adianta permanecer na escada rolante automática achando que haverá algum espaço a ser conquistado. O profissional precisa estar atento às tendências na área em que atua e nas caixinhas que o interessa para não morrer de obsolescência.

Do contrário, ficará fadado ao efeito Kodak. Confortável com o pedaço do bolo que já possuía, esse case evidencia a perda de espaço em um mercado que não deixou de existir, mas teve seu formato de negócio reinventado. O mesmo acontece com as carreiras, que se transformam com o tempo.

No outro lado do balcão, os dirigentes das empresas também necessitam navegar por novas fronteiras. Os modelos tradicionais de carreira linear, baseados em comando e controle, certamente não irão se sustentar nessa transformação.

Não acredito que o caminho seja pensar em estruturas totalmente sem hierarquias, como algumas empresas vêm testando. O mote dessa evolução é flexibilizar modelos de trabalho. Um formato construtivo baseado na confiança, que dê voz para o profissional, permitindo que ele impulsione a sua carreira também em movimentos laterais.

Direções contrárias a essas irão refletir em perda de talentos e em decisões baseadas na visão de retrovisor.

A deprimente hora de agradar o chefe

Em seu novo artigo para o jornal Valor Econômico, o CEO da Produtive, Rafael Souto, discorre sobre as estratégias de alinhamento que bloqueiam a inovação das empresas.

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Não há dúvidas de que fazer propaganda do próprio trabalho é importante. O chamado marketing pessoal conta muito na hora de crescer na carreira. Os profissionais que vivem com a ingênua ideia de que crescerão somente por resultado e habilidades técnicas passam imersos numa sensação de que são carregadores de piano. Acham que trabalham muito e não são reconhecidos. São apáticos na sua autopromoção e pagam um preço alto por isso. Ficam estagnados.

No entanto, esse jogo político parece que vem ultrapassando limites da razoabilidade. As estruturas organizacionais cada vez mais enxutas e instáveis funcionam como lenha na fogueira das vaidades. Reforçam comportamentos nos quais as pessoas precisam defender suas áreas e seus cargos com unhas e dentes.

Essa defesa de território produz vários efeitos colaterais. O isolamento entre as áreas é um dos mais evidentes. Diretores que trocam gentilezas entre si, operam nos bastidores como se estivessem numa guerra fria. Constroem castelos nas suas áreas e torcem para o fracasso do outro. As equipes ficam reféns desse movimento. Um ninho de cobras armado no topo.

Um recente estudo da consultoria McKinsey mostra que o número de níveis hierárquicos caiu, em média, de dezesseis para sete, em grandes empresas nos últimos dez anos.

O que aparentemente seria uma redução de burocracia e ganhos de agilidade representa, na prática, mais trabalho e menos estrutura para execução. As responsabilidades ficaram maiores e a quantidade de pessoas para fazer está menor.

Nem precisamos ir longe nessa análise. Basta conversar com os gestores de empresas, principalmente os que ocupam posições de média gestão. Os gerentes vivem o pior dos mundos. Distantes das decisões estratégicas e pressionados pela operação, precisam dar conta do que ninguém consegue.

Longe de ser uma relação política saudável, observo que a toxidade das companhias cresce em cada reestruturação.

O professor da Universidade de Berlim, Byung Chul Han, escreveu um ensaio chamado “O Cansaço das Demandas”. O excesso de responsabilidades e a dificuldade de atendê-las vão criando sobrecargas. A sensação de estar sempre devendo, enfraquece a criatividade e deixa as pessoas funcionando no modo zumbi. Simplesmente atendem demandas e tentam sobreviver na empresa.

O efeito mais perverso dessa onda de sobrecarga e medo é a necessidade de estar sempre em sintonia com o chefe. Uma das palavras preferidas no jargão corporativo é “alinhamento”. Na prática, significa concordar com o que está sendo decidido. Do contrário, pegue sua mochila e vá embora.  Você será taxado como rígido e desalinhado com os objetivos corporativos.

Como consequência, os profissionais estão cada vez mais especializados em mapear as ideias do chefe e dar respostas que o agradem. Arriscam pouco e aguardam as decisões serem tomadas para acompanhar a onda. São seguidores das maiorias e evitam divergências. Agem como um jogador de xadrez que analisa os movimentos para escolher a próxima jogada. O desafio é manter o poder. Dessa forma, ficam alinhados e conseguem se sustentar até o próximo corte de despesas.

Vários líderes se surpreendem quando jovens afirmam que não querem ocupar posições de chefia. Um levantamento do site americado Career Builder mostra que apenas 34% dos jovens querem cargos de liderança. Um dos motivos é que eles não querem perder suas identidades. São filhos de uma geração que concedeu mais liberdade e possibilidades de escolhas. Mesmo que sejam inundados por fantasias sobre o trabalho, conseguem ler a toxidade das empresas. Muitas vezes fogem iludidos para empresas com tobogãs na recepção e animais de estimação circulando nos corredores. Mas, o fato é que não querem um modelo de liderança baseado no comando, controle e intenso jogo político.

Aos que seguem sua caminhada rumo à cúpula, é importante ter claro que irão consumir boa parte do seu tempo em reuniões cheias de política e conchavos. A arte de agradar o chefe será uma das mais valorizadas. À noite, tome um forte analgésico e tente dormir. Amanhã cedo tem nova reunião e a pauta é inovação.

Acesse o artigo também no site do Valor Econômico

O olhar sobre a carreira em tempos de crise

O CEO da Produtive aborda como o protagonismo na carreira prepara o profissional para diversos momentos, como os de crise econômica.

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A crise econômica que atingiu o Brasil por dois anos seguidos reverbera, ainda que de forma mais suave, neste 2017. E o olhar sobre a carreira também muda. Se por um lado as pessoas aproveitam o momento de caos para mudar o foco de trabalho, mirando na felicidade, outras se retraem, evitando qualquer pequena modificação na carreira.

“A crise seria até o momento de repensar e partir pra outra coisa, mas as pessoas têm medo de mudar de emprego e não arrumar mais nada”, exemplifica Rafael Souto.

Para ele, são poucos aqueles que arriscam enfrentar o mar de mudanças. Orienta, porém, que se não vai tomar decisão por medo, a crise “no mínimo é momento de reflexão e mudança” para o profissional dar um novo passo na carreira.

“Independente de crise, quem não tem planos e reflexão sobre sua trajetória de carreira e futuro fica a sabor do que aparece. Se aproprie, seja protagonista da sua carreira”, aconselha.

Condenados sem apelação

Na edição de março da revista Você S/A, Rafael Souto, CEO da Produtive, discorre sobre o cuidado que o profissional precisa ter em sua carreira a fim de evitar uma imagem manchada no mercado.

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A reputação compreende o grau de confiança que o mercado deposita numa pessoa. Ela está intimamente ligada à imagem da organização para a qual o profissional trabalha ou já prestou serviços. O ponto de atenção é o quanto a percepção do mercado sobre uma empresa se transfere para a imagem do profissional.

Em tempos de Lava-Jato, o risco de contaminação de uma carreira pela transferência de reputação da empresa é enorme. O mercado é muito mais cruel do que a justiça.

No sistema judiciário, um inocente dificilmente é condenado. Temos um amontoado de instâncias e recursos que permitem aprofundar a responsabilidade de cada pessoa na gestão de uma empresa. Já no mercado de trabalho a condenação é cruel e silenciosa. Ao menor sinal de fumaça, uma carreira pode ser joagada na lata do lixo.

Um profissional que atua numa companhia com imagem comprometida por escândalos de grande notoriedade ou percebida como não confiável está condenado. Não é chamado para entrevistas, não recebe retorno e nem saberá o porquê. Essa mácula silenciosa ocorre todos os dias nas empresas de recrutamento, na área de gestão de pessoas e na mesa de decisão sobre contratações.

O mais dramático é a generalização – concluir que todos os funcionários de uma empresa valem menos porque a alta gestão cometeu práticas ilegais. Mas não adianta achar injusto. Uma regra básica de contratação é minimizar os riscos. Na dúvida, as empresas não contratam.

O efeito colateral é o impacto na carreira dos profissionais que lá trabalham e ficam expostos a esse profundo desgaste de imagem. São rotulados pelos erros da empresa sem aprofundar sua real responsabilidade.

Por isso, uma das questões mais relevantes para se decidir trabalhar numa organização é medir esse risco. Não adianta estar num ótimo projeto se a empresa estiver no penhasco da falta de credibilidade.

Cabe a cada profissional avaliar profundamente uma empresa antes de aceitar uma proposta de trabalho. Essa análise não é simples porque o processo seletivo funciona como um jogo de sedução. A organização costuma enfeitar a oportunidade e vender sua proposta como a chance da vida do profissional. Por isso, é preciso analisar a reputação da empresa no mercado, a percepção de ex-executivos e conversar com pessoas que conheçam o setor no qual a empresa atua. Ainda assim, o risco é alto.

Se mesmo com todos esses cuidados você descobrir algo grave sobre sua empresa e não tiver como alterar o rumo dos negócios, o melhor é buscar outro trabalho para não acabar condenado pela irresponsabilidade de outras pessoas.