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O Ciclo Ótimo de Carreira

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Em artigo publicado na edição do jornal Zero Hora de 03 de março, Rafael Souto escreve sobre o ciclo de trabalho que o profissional deve ter em cada empresa. 

Quanto tempo devo permanecer numa empresa? Essa é uma pergunta recorrente de profissionais nos mais diversos níveis e momentos de vida.

Proponho duas reflexões sobre estratégia de carreira para discutir a questão.

A primeira é um conceito chamado “Ciclo Ótimo de Carreira”. Significa o período em que o profissional percebe que o trabalho na empresa está agregando valor para sua carreira e a organização entende que o profissional está contribuindo com seu projeto empresarial.

Estar num ciclo ótimo de carreira é perceber que aquele projeto ainda gera motivação e sentido. Ele pode durar dois, cinco ou quinze anos. Não existe um período determinado.

A segunda reflexão é sobre a construção dos ciclos de trabalho. No século passado, vivemos um longo período em que as relações de trabalho eram estáveis. A previsibilidade e o crescimento linear faziam parte da lógica das trajetórias profissionais.

A partir dos anos 2000, as mudanças econômicas geraram profundas alterações nesse modelo. Do ponto de vista das organizações, a instabilidade fez com que os ciclos ficassem mais curtos e incertos. No olhar dos profissionais, o desejo de crescimento e controle da própria carreira também alteraram a lógica previsível do passado.

O protagonismo na carreira foi um grande avanço. Os profissionais passaram a se preocupar com seu planejamento de carreira. Entenderam com mais clareza que não podiam apenas esperar as soluções propostas pela empresa.

O efeito colateral foi um aumento de trocas de trabalho. Principalmente nos períodos de crescimento da economia. Na fase em que as empresas estavam contratando com grande apetite, muitos profissionais fizeram movimentos de carreira apenas analisando a oportunidade que surgia. Não mediam o impacto na carreira. Mudavam sem concluir a missão.

Como consequência dessas transições de carreira, muitos profissionais passam mais tempo explicando o porquê mudaram do que o que fizeram nas empresas. Carregam uma trajetória inconsistente. A consistência nos ciclos de trabalho se constrói a partir de períodos em que os desafios propostos são entregues.

Nessa direção, a melhor estratégia de carreira é construir períodos em que os resultados possam ser demonstrados, evitando romper um ciclo ótimo de carreira. Uma história com introdução, desenvolvimento e conclusão.

Acesse a publicação oficial no Zero Hora.

Os meninos de Jeri e o novo paradigma de carreira

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Artigo de Rafael Souto, CEO da Produtive, publicado na edição de 02 de março do jornal Valor Econômico, em sua coluna Novas Conexões:

Os ventos do Ceará criaram um local perfeito para a prática de esportes com vela. Esse paraíso chama-se Jericoacara. E lá, conheci uma história fascinante sobre construção de carreira e de vida.

Alguns meninos nascidos em Jeri e que cresciam olhando a prática de windsurf se interessaram pelo tema. Os movimentos inquietantes das velas que voavam sobre o mar verde e trêmulo maravilhavam eles.

Um dia, esses meninos conheceram um italiano praticante do esporte chamado Maurizio Guzella, e passaram a ajudá-lo a transportar os seus equipamentos. A partir daí, começaram a viver o esporte. Rapidamente evoluíram. Praticavam todo o dia. Sentiam vibração e energia únicas. Logo começaram a se destacar em campeonatos e decidiram fazer suas vidas conectadas ao  surfe no vento.

Hoje, esses jovens figuram entre os campeões mundiais de windsurf. Algumas técnicas que foram criadas nas águas de Jeri são referência para os melhores atletas do planeta.

A incrível história dos meninos que nunca haviam subido numa prancha e se tornaram destaque num esporte de alta técnica serve como base para uma reflexão sobre um novo olhar para carreira.

Um grupo internacional formado por pesquisadores de carreira chamado Life Design International Research Group, que possui representantes da Bélgica, França, Itália, Portugal, Brasil, Suiça, Holanda e EUA, trabalha há alguns anos na construção de um novo pensar sobre gestão de carreira.

Em sua essência, a discussão está baseada nas profundas mudanças do século XXI, notadamente na transformação da economia global que alterou a relação dos indivíduos com o trabalho. Enquanto no século passado a previsibilidade e a estabilidade eram constantes, hoje vivemos um período de alterações rápidas e transições frequentes. O impacto da tecnologia altera rapidamente as perspectivas e os movimentos de carreira. As trajetórias estáveis, lineares e previsíveis faziam parte de um mundo que não existe mais.

O conjunto de alterações econômicas também gerou uma significativa mudança na percepção dos indivíduos sobre sua carreira.

A questão do equilíbrio entre as interações e atividades de trabalho e as interações e atividades relativas à família está se tornando fundamental nas reflexões das pessoas acerca de suas competências e aspirações. O gerenciamento das relações entre os diversos domínios da vida tornou-se uma preocupação central para inúmeros profissionais.

Uma das principais consequências das inter-relações entre os diferentes domínios da vida é que não podemos mais falar com convicção em desenvolvimento de carreira. Devemos vislumbrar “trajetórias de vida”, nas quais os indivíduos progressivamente projetam e constroem suas próprias vidas, incluindo seus percursos profissionais. Não são apenas os jovens que se confrontarão com a grande questão: o que eu vou fazer da minha vida? Ela está posta para todos, quando confrontados com uma série de grandes transições nas suas vidas, ocasionadas por mudanças na saúde, no emprego e nas relações pessoais.

Os diversos papéis que temos na vida são o tema central das reflexões de carreira. O percurso profissional faz parte desse contexto. A construção desse desenho de vida passa a ser o desafio de cada profissional.

A identificação de nossos “bens-chave” é a parte nuclear desse projeto. Quando pensamos em valores que nos dão sentido, estamos definindo nosso autoconceito que será norteador do projeto de vida. Para definir com precisão esses valores, precisamos frequentemente nos questionar e compreender nossa narrativa de carreira. Na brilhante teoria do professor Mark Savickas, a capacidade de narrar a própria história é uma forma única e profunda de aproriar-se de si mesmo. A trajetória nos ajuda a compreender nossos temas de vida.

Com profunda simplicidade e intuição, os meninos de Jericoacoara parecem ter feito escolhas que mesclaram com precisão a ideia da construção de vida.

Não podemos mais usar a visão segmentada sobre carreira na qual trabalho e vida pessoal eram tratados de forma isolada e separada.

A construção da vida é o novo paradigma para entender a carreira no século XXI.

Veja a publicação no Valor Econômico.