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Matéria com entrevista de Rafael Souto publicada na edição de junho da Revista Melhor Gestão de Pessoas:

Enquanto algumas empresas demitem, outras buscam reaproveitar os talentos descartados

Por Gumae Carvalho

Uma relação desigual. O atual cenário econômico brasileiro tem aumentado o número de profissionais em busca de uma nova oportunidade de trabalho, em um mercado com uma demanda menor em muitos setores. Divulgado em abril pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de desemprego revela que 10,2% dos trabalhadores estão fora do mercado (ou 10,4 milhões de brasileiros), refletindo o desequilíbrio entre a (grande) oferta e a demanda (pouca) de mão de obra. Setores como a construção civil, por exemplo, amargam números de retração econômica e aumento de demissões. No entanto, há setores nos quais a crise passa ao largo e, ao contrário dos demais, estão em busca de talentos.

Um deles, segundo o diretor da Korn Ferry Futurestep, Gustavo Parise, é o do agronegócio. “Além disso, há um bom número de contratações em curso que não estão atreladas a um bom momento de determinado setor, mas a certos movimentos como a consolidação ou a profissionalização de setores como saúde e varejo, para citar alguns”, diz Parise ao se referir a algumas posições que vêm se mantendo em alta nas contratações.

Na lista de setores e áreas aquecidas, Rafael Souto, CEO da Produtive, acrescenta, além das organizações do agronegócio, as indústrias exportadoras e as empresas de médio porte. Estas estão aproveitando o cenário de crise para melhorar o grupo de gestão, uma vez que existem muitas pessoas qualificadas disponíveis, explica, alinhando-se com a observação de Parise.

O CEO da Produtive conta, ainda, que tanto as empresas que se baseiam em exportação quanto as médias que estão aproveitando o cenário de crise para contratar pessoas qualificadas não estão abrindo vagas novas: estão realizando substituições para melhorar o resultado e conseguir navegar melhor em períodos de turbulência.

Mas não há como negar que o mercado todo encolheu, como reforça José Augusto Minarelli, diretor-presidente da Lens & Minarelli. E, com isso, quase todos os setores da economia têm freado suas atividades, particularmente o industrial. Entretanto, Minarelli também reforça que, em termos de atividade ocupacional, algumas áreas estão em busca de pessoas. “Finanças, marketing/vendas, compliance, tecnologia, riscos e inovação têm apresentado maior demanda. Na crise, é preciso vender, cuidar bem do dinheiro, utilizar mais tecnologia para suprir a falta de recursos, aumentar a produtividade, descobrir novos produtos ou serviços e cultivar relacionamentos internos e externos, afinal tudo depende de pessoas”, observa Minarelli.

BOLHA SALARIAL

De forma geral, nas novas contratações vem sendo percebida uma redução na remuneração e no pacote de benefícios oferecidos. Souto estima que a média de redução salarial esteja por volta de 20% – algo, para ele, necessário. “Havia uma bolha salarial em curso. Os salários do Brasil estavam irreais. As empresas estavam pressionadas e comprimindo as margens”, lembra. “É preciso considerar a pressão anual das companhias em relação ao dissídio para aumentar salários, sendo que elas não são conseguem repassar isso para o preço dos produtos; por consequência, as margens caíram muito. O Brasil ficou muito caro antes de ficar rico”, diz.

A questão de redução salarial tem outro enfoque para Minarelli. Ele explica que boa parte das contratações de executivos, hoje, ocorre por substituição de profissionais por outros de melhor perfil, atitude ou performance. “Nesse caso, a questão salarial não é o motivo da contratação e nem sempre ocorre redução de salários, até porque, pelo motivo mencionado, as pessoas contratadas para substituir outras estão trabalhando, e para deixarem seus empregos elas precisam receber uma proposta atraente. Em alguns casos, há até alguma melhora [na remuneração]”, explica.

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TALENTOS INTERNOS

Para tentar passar pelos momentos turbulentos, muitas empresas, em vez de tentar buscar alguém no mercado, acabam apostando nos talentos internos, dando-lhes responsabilidades interinas de liderança. “Tal iniciativa dá chance ao profissional de desenvolver suas habilidades e flexibilidade para a empresa avaliar o desempenho do colaborador atuando na função”, diz Parise. Ou, então, tais companhias vão ao mercado em busca de interim managers.

A ideia de buscar um profissional para uma atividade específica, por um período de tempo delimitado (como, por exemplo, para levar adiante um projeto), tem estado presente nas discussões de muitas empresas. Conhecidos como interim managers ou gerentes temporários, esses profissionais representam uma alternativa bem-vinda, na opinião de Souto. A questão, diz o CEO da Produtive, é que ainda existem restrições trabalhistas para contratar esse tipo de profissional: “As empresas maiores, principalmente, têm receio devido aos impactos trabalhistas. Ou seja, existe potencial, mas ainda há muitas dúvidas nas questões trabalhistas”, avalia.

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NOVAS FORMAS DE TRABALHO

E qual o impacto da crise nas empresas que lidam com recolocação profissional? Estariam elas “vendendo lenços”? Por ser uma empresa de transição de carreira, no atual cenário, os negócios da Produtive aumentaram – o volume de pessoas que entraram em contato em busca de uma nova oportunidade profissional cresceu 20%, segundo Souto. “A estratégia que temos utilizado para conseguir recolocar pessoas é pensar diferente, buscado empresas menores, pensando outras estratégias e setores econômicos que possam estar contratando para conseguir recolocá-las”, diz.

Parise, da Korn Ferry Futurestep, acredita que o momento é capaz de oferecer oportunidades de diferenciação frente aos competidores. Para tanto, estar junto aos clientes é fundamental: “Deve-se estar muito perto deles, reforçando a qualidade do serviço, não apenas de atendimento, mas também na geração de valor para os negócios por meio de soluções que ajudem a atingir suas estratégias”, explica o executivo, que estima uma média de crescimento de 30% no número de profissionais que procuraram a sua empresa em busca de uma nova oportunidade nos últimos meses.

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Eles não querem só dinheiro

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Matéria veiculada na edição de fevereiro da Revista Melhor Gestão de Pessoas, que contou com participação de Rafael Souto:

Caroline Marino
Programas de incentivos financeiros são importantes, mas sozinhos não surtem o efeito desejado de engajar e reter os melhores talentos

Em tempos de crise econômica e incertezas, a cobrança é ainda maior. E está de todos os lados. De um, as empresas precisam mostrar resultados e pensar em ações que não deixem o negócio ser abalado; de outro, os profissionais precisam bater metas e inovar. Nesse sentido, o engajamento ganha ainda mais força – sem ele não há companhia que se sustente. apenas funcionários altamente engajados geram melhores resultados, mais lealdade por parte dos clientes e melhor desempenho financeiro. E se existe algo com que todo mundo concorda é a importância de um bom salário. Ninguém discute isso, ainda mais numa época de alta de preços e juros altos.

Dessa maneira, os incentivos financeiros, como bônus anual, comissões, participação em lucros e possibilidade de sociedade, ganham força. Mas não se trata apenas de reter pelo dinheiro. Ele sozinho não basta. É preciso entender o cenário atual e as expectativas dos colaboradores – o que eles querem e o que os motiva –, além de criar uma conexão com aspectos mais intangíveis da organização, como cultura, qualidade de vida e sistemas de reconhecimento remunerados (ou não). É o que aponta um levantamento global feito pela Korn Ferry Hay Group, consultoria organizacional e de pessoas de São Paulo, com mais de 500 empresas.

Segundo o estudo, os benefícios financeiros só surtem o efeito desejado quando alinhados com outras práticas de gestão de pessoas. Ou seja, é preciso usá-los em conjunto com um sistema sólido de gestão de desempenho (com as métricas certas e indicadores comportamentais, acordados com gestores que treinam e desenvolvem seus funcionários, além de motivá-los). E, claro, precisam ser justos e bem comunicados. “Se eles não complementarem outros processos de RH e de gestão – principalmente gestão de desempenho, aprendizagem e desenvolvimento – não serão eficazes”, diz Carlos Siqueira, diretor e líder da área de remuneração para América Latina da Korn Ferry Hay Group.

Entende-se como incentivos financeiros as recompensas que as organizações dão aos funcionários, acima e além do salário-base e dos benefícios, para reconhecê-los por seu desempenho. O valor exato da recompensa normalmente depende de quanto o negócio está prosperando, bem como do nível de desempenho demonstrado pela pessoa. Além disso, o momento em que o colaborador vai receber essas recompensas dependerá de os incentivos serem de longo prazo (planos de ações por desempenho, opções de ações, dinheiro diferido etc.) ou de curto prazo (bônus anual, comissões, participação em lucros). “Não existe uma regra que possa ser aplicada a todas as companhias, depende do perfil da empresa e de seus funcionários”, afirma. Em outras palavras, isso quer dizer que esses incentivos variam muito de acordo com a estratégia da organização. “Eles não funcionam quando existe um desalinhamento entre a realidade da companhia, sua cultura e o negócio em que está inserida”, diz Siqueira. Segundo ele, em uma empresa que precisa de muita colaboração, muito trabalho de time e os incentivos são baseados no individualismo, não vão funcionar.

Para ficar mais simples, podemos dividir as empresas em três tipos. A primeira é a mais conservadora, aquela que não é conhecida por oferecer os salários mais altos, mas que atrai pelas oportunidades de carreira e desenvolvimento. Aqui os funcionários dão valor a ações mais tradicionais, como chances de crescer e nome no mercado, e não gostam de trabalhar em um clima de pressão, com metas altas e agressivas, mesmo que isso signifique bônus recheado. A segunda é a moderada, que consegue fazer uma junção dos dois lados – possui clima diferenciado, boas chances de crescer e incentivos financeiros na média do mercado. Aqui os funcionários dão mais valor a ações como horário flexível, autonomia e flexibilidade. A terceira é a de perfil mais agressivo, em que as pessoas não estão tão preocupadas se o clima é bom, mas sim com o pagamento atrelado aos incentivos de curto e médio prazo. “O bônus que o funcionário ganha, por exemplo, pode ser muito maior do que a remuneração total dele no ano”, explica Christian Pereira, diretor de remuneração executiva da Mercer, empresa de consultoria e outsourcing, de São Paulo. Segundo ele, não existe um modelo ideal, existe o certo para cada tipo de empresa. De acordo com ele, por exemplo, há empresa de que não têm políticas de remuneração tão agressivas, mas um nível alto de engajamento.

Porque só dinheiro não basta

“É claro que o dinheiro importa, mas sozinho não resolve”, diz Rafael Souto, presidente da Produtive. Segundo ele, por um tempo, o profissional pode achar que apenas isso é bom, mas com o passar do tempo, se ele não tiver uma condição de trabalho boa para entregar projetos e não tiver desafios para crescer, a questão financeira não fará mais sentido. Algumas pesquisas apontam, por exemplo, que quando um funcionário pede demissão e a empresa faz uma contraproposta, ele permanece apenas três meses. “O incentivo financeiro precisa estar em uma situação de consequência e não de alvo principal”, ressalta Maria Candida Baumer de Azevedo, sócia da People & Results, especializada em carreira e cultura empresarial, de São Paulo. Ela explica que é preciso uma comunhão de valores e um trabalho pelo mesmo propósito para que os incentivos financeiros façam sentido.

Os incentivos financeiros são extremamente eficazes para gerarem motivação – nenhum dos consultores entrevistados vai contra isso. No entanto, estudos sobre incentivos e engajamento mostram que não são sustentáveis sozinhos – nem nas empresas mais agressivas. Pode-se notar que, até nelas, há planos de desenvolvimento e crescimento. “Não há uma relação direta entre incentivos financeiros e engajamento. Na realidade, o que mais pode importar é a percepção de remuneração justa do que o aumento proporcional do engajamento em função da remuneração direta”, afirma Marco Túlio Zanini, diretor da Symbállein Consultoria e professor da FGV-Rio. Segundo ele, o engajamento está relacionado principalmente ao sentido e ao propósito do trabalho, à percepção de justiça e meritocracia, e à dinâmica e qualidade das relações no ambiente organizacional. Ele explica que, especialmente em organizações que buscam a diferenciação por tarefas de criação, qualidade, inovação e espírito colaborativo, a ênfase em incentivos financeiros pode representar um grande equívoco. “Pode promover o surgimento de uma cultura organizacional baseada no individualismo e competição entre pares, dificultando a cooperação espontânea”, diz. E, em momentos de crise e incerteza, a colaboração espontânea torna-se ainda mais fundamental para a busca coletiva da eficiência operacional e soluções criativas de otimização de recursos.

Todo modelo de gestão deve, no entanto, ter o cuidado de equilibrar incentivos financeiros, que comuniquem a percepção de remuneração justa, com outros incentivos que apontem juntos para os desafios do atingimento de resultados. Definindo-se os resultados desejados e como se deseja alcançá-los, os indivíduos devem ser avaliados, reconhecidos e valorizados por um conjunto de metas e respectivos indicadores, que estejam contemplados no sistema de incentivos.

Reconhecer quem entrega

A Cielo aposta nesse modelo. Com uma cultura orientada para a meritocracia, a política da empresa de incentivo e reconhecimento atrelada ao desempenho dos colaboradores inclui processos que envolvem também a parte financeiras, como o Fórum de Gestão de Talentos (FGT). Essa ação, segundo Roberto Dumani, vice-presidente de desenvolvimento organizacional da companhia, parte da avaliação individual para atingir um consenso entre os gestores sobre o desempenho de cada colaborador. “Esse desempenho é expresso em uma ferramenta, que é uma evolução do famoso nine box. O FGT nos permite identificar os talentos e promover recompensas associadas àqueles que têm performance destacada durante o ano, seja na perspectiva da capacidade de entregar resultados como também na maturidade demonstrada nas competências organizacionais”, explica.

Segundo ele, para a Cielo, não basta apenas entregar, a empresa quer reconhecer quem entregou de maneira consistente com seus valores. A partir daí é que os instrumentos de reconhecimento financeiros são ativados. Dumani cita como exemplo o programa Key People, que reconhece anualmente talentos de qualquer nível por meio da outorga de ações da companhia. No entanto, ele ressalta que o benefício financeiro é apenas uma parte da “cesta de moedas” da companhia, que integra a chamada proposta de valor para o colaborador. “Nosso objetivo é oferecer a cada funcionário a possibilidade de construir um vínculo emocional com o seu trabalho e com a organização”, diz. Assim, a empresa aposta em fornecer um ambiente engajador, no qual o profissional consiga se sentir respeitado e no qual possa alavancar o seu aprendizado e desenvolvimento e decidir sobre a sua carreira.

A maior parte das iniciativas voltadas para o reconhecimento e desenvolvimento dos profissionais é orientada por benefícios que vão muito além da remuneração. O processo de Gestão de desempenho e desenvolvimento (GDD), o Fórum de Gestão de Talentos, a Universidade Cielo, o Painel de Oportunidades (que fomenta a mobilidade de carreira dos profissionais dentro da própria organização) e os Oito Princípios de Carreira são algumas das ferramentas da empresa. “Investimos, em média, o equivalente a um 14º salário no desenvolvimento de cada colaborador”, completa Dumani.

Na Adobe Brasil, os incentivos financeiros devem estar atrelados ao objetivo maior que é a gestão das pessoas, com ações de desenvolvimento e crescimento. “Dinheiro não segura ninguém por muito tempo”, diz Fabio Sambugaro, vice-presidente enterprise sales da empresa. Segundo ele, a companhia oferece bônus anual aos funcionários e comissões pelas vendas, mas sempre pensando também em recompensas não financeiras.

Jantar com os fundadores

Ele destaca dois programas globais nesse sentido: o Platinum Club, que é específico para vendas em que todo ano os que mais performaram globalmente são convidados para uma viagem internacional em uma rede de hotéis Four Seasons com um acompanhante (tudo custeado pela companhia); e o Founders Award, que é uma premiação anual, com indicação feita pelos próprios colaboradores, que premia as pessoas que mais representam os valores da empresa. Nesse caso, além de uma premiação financeira, os colaboradores participam de uma cerimônia e de um jantar com os dois fundadores da organização.

Quando se fala nos bônus e comissões de venda, há o processo chamado check-in, em que tanto gestores quanto colaboradores são avaliados. “Esse processo determina se o colaborador é merecedor de uma promoção, de uma compensação adicional por mérito ou até um aumento de salário”, explica Sambugaro. Segundo ele, as bonificações se baseiam no cumprimento de objetivos preestabelecidos. “Todos ganham com isso e faz com que todos estejam alinhados aos objetivos da empresa.”

O Grupo Netshoes é outra empresa que toma cuidado para que o dinheiro não seja tudo. Assim, a companhia mescla os incentivos financeiros, como o programa de participação nos resultados e os bônus, com ações de gestão de pessoas pensadas no seu púbico. “Diferenciais como clima, autonomia e liberdade de se vestir como desejar fazem sentido para um mercado como o nosso e para um corpo de funcionários tão jovem”, diz Sergio Povoa, diretor de recursos humanos do grupo.

No que se refere à parte financeira, a empresa possui, ainda, uma política de bolsa de estudo que prevê subsídio de 50% a 70% do valor do curso e benefícios como vale-alimentação e refeição não são descontados em folha de pagamento. Para o recebimento do bônus, a empresa estipula metas corporativas, departamentais e individuais de acordo com o cargo. “Todas as metas têm um período de vigência e são cadastradas em um sistema mediante aprovação final do gestor de cada área. Durante o período de fechamento do ciclo, as metas são apuradas para recebimento de bônus”, explica.

Cada um na sua

Como se vê, são vários os modelos de sucesso na aplicação de incentivos financeiros. Cada empresa tem seu modelo de sucesso. Na Sênior, além do bônus anual e do PPR, há o programa intraempreendedorismo, projetado com o objetivo de promover e potencializar o empreendedorismo e também lançar no mercado produtos e serviços inovadores. “A cada ano, é escolhido um tema diferente e, em 2014 foram dados aos ganhadores dois reconhecimentos: uma porcentagem da receita, deduzindo participações durante quatro anos (ano do lançamento + três anos), a ser dividida entre os membros da equipe vencedora, além de um Smart Watch para cada um”, conta Jussara Dutra, gerente de desenvolvimento humano e organizacional da companhia. Na visão da executiva, o engajamento pelo dinheiro acontece quando as pessoas se mobilizam na direção de um propósito. Dessa forma, podem contribuir quando são uma consequência da conexão das pessoas com a estratégia da empresa e quando os profissionais têm a oportunidade de contribuir com a criação de novas soluções.

A Brasilprev atrela os incentivos financeiros ao cumprimento de metas, à performance dos funcionários e às competências desenvolvidas. Para isso, usa o Balanced Scorecard (BSC), metodologia de medição e gestão de desempenho, em que as pessoas são avaliadas de acordo com as metas individuais, de áreas e corporativas, além de suas competências. Segundo Eosiney Acosta, gerente de gestão de pessoas da companhia, o objetivo é desenvolver uma cultura de alto desempenho e reforçar o reconhecimento das pessoas e sua contribuição para o crescimento da empresa. “Esse processo acontece durante o ano todo e permite que os funcionários saibam, no decorrer do programa, como está seu desempenho e o que eles podem fazer para melhorar”, diz. Ele explica que as avaliações de competência dos gestores, por exemplo, são feitas pela avaliação 360º, que mostra como esse profissional está sendo visto tanto por sua equipe, quanto pelos seus gestores e pares. “Quando você faz um modelo eficiente de incentivos financeiros, que está atrelado a competências e crescimento profissional, ajuda muito no engajamento”, diz.

Sem metas impossíveis

Para estabelecer as metas, cada empresa segue uma linha. O importante, segundo Siqueira, da Korn Ferry Hay Group, é que sejam viáveis, ou seja, o funcionário precisa acreditar que pode atingir a meta. “Às vezes, vale mais a pena propor menos dinheiro, mas com metas alcançáveis do que metas impossíveis por muito dinheiro para frustrar as pessoas.” Na Cielo, as metas individuais são definidas a partir de um processo que começa no plano estratégico e orçamento anual e vai definindo os objetivos individuais de cada vice-presidente em processo contínuo, até chegar no analista júnior.

De acordo com Dumani, dependendo da área, o próprio colaborador pode propor a sua meta e discuti-la com seu gestor. Existem, ainda, os objetivos compartilhados, em que prevalece a visão de que há uma interdependência entre áreas. Por exemplo, a área de produtos tem objetivos compartilhados com a área comercial; a de inovação com a de TI; e todos têm objetivos de gestão financeira compartilhados com finanças. Para que tudo funcione bem, todos os colaboradores têm suas metas e objetivos registrados e gerenciados em um sistema, o Gestão de Desempenho e Desenvolvimento (GDD), em que todos os funcionários são avaliados anualmente. “A partir dessa avaliação, é elaborado o plano de desenvolvimento individual, ou seja, uma trilha de carreira para definir aperfeiçoamentos e novas metas para cada um dos colaboradores – atreladas também aos desafios estabelecidos para a própria companhia em seu planejamento estratégico, o que é fundamental para inspirar e engajar todo o time”, diz Dumani.

O ideal para encontrar o modelo de incentivos financeiros ideal, como explica Rafael Souto, da Produtive, é realizar pesquisas de clima, avaliação de desempenho, pesquisas de desempenhos e reuniões dos líderes da empresa – parte essencial das ações de RH. É por meio dessas ações que é possível implantar o melhor modelo.

SOUTO

O treinamento que funciona

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Confira matéria com participação de Rafael Souto, CEO da Produtive, publicada na edição de julho da Revista Melhor Gestão de Pessoas:

Caroline Marino

Quais os pontos que devem ser observados na hora de investir em cursos focados no comportamento do funcionário

Todo mundo já ouviu a história de um executivo que foi contratado pelo currículo exemplar e, em curto espaço de tempo, foi demitido por conta de comportamentos incompatíveis com o negócio, a missão, a visão e seus valores. Essa situação, em conjunto com a dificuldade das empresas em encontrar mão de obra qualificada, tem feito as áreas de gestão de pessoas intensificarem a oferta de treinamentos comportamentais. “É comum encontrar gestores falando sobre a importância dos cursos focados no comportamento do funcionário”, afirma Willian Bull, sócio consultor do Instituto Pieron, consultoria de desenvolvimento de pessoas e empresas.

Segundo ele, isso é reflexo também das novas gerações que estão ingressando no mercado de trabalho e da necessidade de alinhamento do comportamento desses jovens à cultura da empresa. “Estudar e compreender a conduta humana no trabalho é um tema tão relevante quanto lidar com a melhoria de processos e novas tecnologias”, diz Bull. A Softtek, empresa de tecnologia da informação, tem apostado nesses treinamentos.

Este ano eles pretendem ampliar as turmas desses cursos em 80%, devido ao grande interesse dos funcionários. Com consultores que precisam, muitas vezes, passar 100% do tempo alocados em clientes, a empresa desenvolveu internamente treinamentos voltados para ensinar a esses profissionais a postura, organização, comunicação e hábitos que os clientes esperam de um consultor – ponto importante para os negócios e que não é contemplado por nenhum treinamento técnico.

Segundo Izabel Aragão, uma das líderes da área de capital humano da Softtek no Brasil, o intuito é facilitar a relação entre os grupos e a formação de equipe, além de melhorar a autopercepção das pessoas. “A ideia é aliar a atuação técnica relacionada ao sistema que a empresa desenvolve, com as habilidades comportamentais, essenciais para o bom atendimento”, afirma. Entre os cursos está o Perfil do Consultor, que envolve teoria e prática com o objetivo de orientar os consultores sobre o comportamento esperado pela Softtek no atendimento aos clientes, e o Galatea, ação de imersão dos colaboradores na cultura da empresa, com atividades vivenciais baseadas nos valores de ações da companhia. “É o momento de conhecer a companhia e a oportunidade de os profissionais participarem de vivências com os líderes”, diz Izabel.

Na visão da executiva, sem os cursos comportamentais, os funcionários não conseguem entregar resultados sustentáveis. “As pessoas precisam de espaço para pensar sobre suas atitudes e condutas, sobre o seu trabalho cotidiano”, ressalta. Segundo ela, é uma forma de os profissionais avaliarem como estão trabalhando e sua postura diante do trabalho e de conflitos. Uma iniciativa, como o Perfil do Consultor, começou no Brasil e foi replicado para outras filiais da companhia no mundo.

Para dar certo
Mudar ou desenvolver um comportamento – desde a forma de atender um cliente até a habilidade do líder em discutir a carreira de seu funcionário – requer esforço. O primeiro ponto é ouvir o que os profissionais querem. Depois, é hora de olhar a estratégia da empresa para alinhar as estratégias empresariais aos anseios dos funcionários, e colocar o plano em prática. Com a ideia estruturada é preciso desenvolver cursos com aulas práticas, exercícios, frequência e velocidade de execução. “Quando um treinamento abrange essas dimensões e envolve as pessoas na discussão, as mudanças são mais significativas”, afirma Marcos Luiz Bruno, diretor do Instituto Pieron. Mas, antes de tudo, é essencial ouvir o colaborador e explicar a ele por que aquele treinamento é importante. Se ele [colaborador] não entender o benefício da ação, não vai se dedicar e o investimento corre o risco de ir por água abaixo.

“Algumas empresas reclamam de não terem mudanças significativas depois da capacitação, mas parte do problema é que a companhia se esqueceu de olhar se aquele treinamento fazia sentido na carreira de seus profissionais”, afirma Rafael Souto, presidente da Produtive, consultoria de planejamento e transição de carreira. Outro ponto importante, de acordo com Souto, é verificar se a companhia não está fazendo mais do mesmo. “Os profissionais, principalmente os mais seniores, estão cansados dos cursos padrões, como aqueles que abordam como trabalhar em equipe ou como gerenciar conflitos e pessoas”, ressalta. É preciso ir além. Ele dá algumas ideias. Segundo o executivo, as companhias precisam falar mais sobre criatividade, como aplicar esses conceitos no processo de trabalho e no negócio, além de preparar melhor os líderes para realizar diálogos de carreiras com seus funcionários. “O líder precisa ser um consultor interno da carreira das pessoas de sua equipe”, completa.

Para Marcos Bruno, há alguns temas centrais que devem ser debatidos sempre: a questão da governança, da confiança mútua (líder e liderado) e a questão ética e moral, que fazem parte dos temas da governança corporativa.

Na Brasilprev, a estrutura de treinamento é dividida em quatro eixos de aprendizagem, sendo que um deles é o Eixo Atitude, no qual a empresa investe no desenvolvimento comportamental dos seus funcionários, e de acordo com as necessidades indicadas por ele. Segundo Katia Cristina Ikeda Hashioka, superintendente de controles internos, processos e pessoas da companhia, na Brasilprev esses treinamentos estão diretamente ligados às avaliações de desempenho. “Nosso foco está, principalmente, nas competências corporativas que tiverem menor média nas avaliações, pois são elas que nos mostram do que realmente os funcionários precisam”, afirma. Este ano, por exemplo, a empresa tem investido em ações que trabalham a inovação, a liderança por mudanças, gestão de riscos, proatividade e gestão mobilizadora.

Após cada treinamento, a empresa, que investe 47% de todo o orçamento em treinamentos, costuma aplicar uma avaliação de reação para se certificar da satisfação dos colaboradores. Os treinamentos são desenvolvidos internamente e aplicados por consultorias especializadas.

Ação personalizada
Estruturar um projeto com esses treinamentos pode ser algo feito internamente, ou com a ajuda de uma consultoria – depende do perfil da empresa e do que ela procura. De acordo com Danielle Coppini, headhunter da Ortus, empresa especializada em recrutamento de RH, cabe à área de recursos humanos fazer essa análise e buscar a melhor forma de aplicar os treinamentos. “Muitas vezes, esse tipo de ação é feito aproveitando os próprios executivos da empresa, que passam seus conhecimentos aos demais colegas”, afirma Danielle. Existem também muitas empresas especializadas que são contratadas exclusivamente com essa função. A escolha do melhor modelo de treinamento e melhor forma de aplicá-lo muda muito de empresa para empresa, e é uma das funções do RH definir qual a maneira mais eficiente para cada estrutura.

O Femme Laboratório da Mulher optou por buscar pessoas especializadas fora da empresa. Segundo Juliana Delle Cave, coordenadora de recursos humanos da empresa, foi contratada uma consultoria especializada que atua como facilitadora no Brasil da Disney Institute. “A ideia é manter nossos funcionários sempre motivados e preparados para atender aos pacientes todos os dias”, afirma. O projeto, intitulado Jeito Femme de Atender, tem o objetivo principal de elevar a satisfação das pacientes por meio de um atendimento mais humanizado e atitudes como cordialidade, conhecimento, empatia, gentileza, disposição para escutar e ajudar, alto astral e comunicação clara e assertiva.

Segundo Danielle, da Ortus, as competências técnicas são desenvolvidas com mais facilidade, já o comportamento é algo que não muda tão facilmente e para atingir seus objetivos é essencial que a companhia conte com um corpo de profissionais cujos valores e comportamentos estejam alinhados.

Depois do treinamento
Depois do término da capacitação, é essencial que o ambiente que receberá a pessoa treinada esteja preparado para a continuidade, isto é, aqueles comportamentos ‘treinados’ devem ter espaço para serem aplicados de fato. Alguns serão simples, como equipamentos. Em outros, que envolvem uma postura pessoal diferente, como mais participação, mais liberdade para expressar ideias ou mais feedback, o sistema organizacional precisa dar o exemplo de que os novos comportamentos ‘são para valer’. “Senão, as novas posturas se perderão”, alerta Bruno. Segundo ele, o que está por trás das mudanças comportamentais é a questão do exemplo. “Se os novos comportamentos são se mostrarem valorizados no dia a dia, a empresa terá perdido dinheiro”, diz. Isso porque nada se resolve apenas na sala de aula. O dia seguinte, ou seja, sua continuidade, precisa mostrar que os novos comportamentos estão inseridos no cotidiano do trabalho e são valorizados. “Aqui, de fato, é que estão os maiores desafios”, afirma Bruno.