Rafael Souto, CEO da Produtive, diz que crise de reputação é muito mais grave do que crise financeira para um empresa. Em algum momento o dano à imagem da empresa pode ser transferido para a reputação do profissional. Confira a explicação do especialista em vídeo publicado na Exame.com.
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Qual é sua marca pessoal?
Trabalhar a marca nas empresas ainda é algo negligenciado por boa parte dos profissionais, apesar de ser um aspecto super importante para a reputação na carreira.
A reputação é um dos temas de carreira mais nebulosos. Alguns motivos tornam essa reflexão complexa.
Como tendência, pensamos que o trabalho e a evolução na carreira são formados pelo resultado técnico das nossas atividades. Ou seja, quem atinge seus resultados está cumprindo sua missão e irá se desenvolver.
Esse entendimento puramente focado em resultados é uma versão ingênua da realidade corporativa. As pessoas tomam decisões com base nas percepções sobre o outro e não somente pelo cumprimento ou não das metas.
O best-seller de Daniel Kahneman “Rápido e Devagar: duas formas de pensar” ilustra bem esta questão. Alerta, inclusive, para o risco de concluir uma opinião rápida demais. O fato é que somos seres biologicamente treinados para coletar impressões e nossas decisões sobre pessoas são tomadas com base nessas percepções.
Essas decisões têm alta carga de formação de imagem e reputação. A maneira como uma pessoa se relaciona ou apresenta um trabalho, a postura ao atender solicitações, a disponibilidade para ajudar, a relação com colegas de outras áreas, a visão de seus pares. Tudo vai construindo a reputação, inclusive a entrega dos resultados.
O desafio é tornar esse pilar de carreira consciente no indivíduo. É despertar em cada profissional a necessidade de pensar sobre esse tema e elaborar suas estratégias. Isso exige interesse em descobrir como está sua reputação e tratar como parte do trabalho.
Esse não é um papel da área de Recursos Humanos, do chefe ou de algum consultor. O responsável pela construção de marca é do indivíduo. Ele poderá buscar ajuda, mas sempre será o personagem principal.
Reforço aqui que não estamos tratando apenas da visão do chefe sobre seu time. A reputação é a imagem de uma pessoa na organização e no mercado. Isso inclui as redes sociais, as empresas em que trabalhou e os colegas de universidade. Tudo vai compondo uma marca pessoal.
O protagonista na carreira está sempre atento a isso e pensa em estratégias para cuidar de sua imagem, corrigir distorções e melhorar seu posicionamento.
Para aqueles que acham isso uma conversa sem foco e preferem os números de suas planilhas, sugiro que repensem sobre como são tomadas as decisões de promoção ou desligamento na vida real. Pensem no comentário de um líder na hora da verdade para promover alguém. Basta fazermos uma análise cautelosa e veremos que a reputação estará sempre presente nos movimentos de carreira.
Ao final só nos resta fazer uma pergunta e iniciar a autorreflexão: qual sua imagem na empresa e no mercado?
Vai concorrer a uma vaga de emprego? Confira dicas para cuidar da sua imagem nas redes sociais
A consultora de carreira sênior, Deisy Razzolini, afirma que empresas ficam de olho no Facebook de candidatos na hora da seleção, em entrevista para o jornal Zero Hora.
Quem nunca postou algo no Facebook e se arrependeu depois que atire a primeira pedra. Para muitos, a rede social é um ambiente de interação e descontração, já para as empresas, esses meios são uma boa oportunidade de analisar a postura de candidatos que estão concorrendo a uma vaga de emprego.
Segundo Patrícia Zettler, consultora da Solucionare Ações e Ideias em RH, as instituições costumam olhar o perfil dos concorrentes no Facebook porque nessa rede é possível encontrar algo mais informal a respeito do candidato, e esse processo pode até mesmo interferir na contratação. Patrícia cita o caso no qual uma empresa deixou de contratar uma pessoa pelos conteúdos inapropriados publicados na rede social.
A maioria das pessoas tem um time de futebol do coração, e quando um dos jogadores erra um gol, por exemplo, tem sempre alguém que acaba “xingando” o atleta na sua rede social. Outra situação que também ocorre é alguém publicar xingamento sobre o time adversário. Deisy Razzolini, consultora de carreira sênior da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado, alerta que temas polêmicos sempre têm consequências.
— É importante cuidar publicações agressivas nas áreas de política e futebol — orienta Patrícia.
Uma dica, segundo Deisy, é usar grupos de WhatsApp ou grupos fechados no Facebook com amigos e família, nos quais é possível ter mais liberdade. A consultora compara a rede social a uma casa, onde sempre há pessoas batendo na porta, que seriam as solicitações de amizade.
— A página é como se fosse nossa casa, quando estamos sozinhos, estamos à vontade, mas quando tem visita, cuidamos nossa roupa e o que vamos falar — completa Deisy.
- Cuidar das configurações de privacidade da conta
Você está em uma festa com um copo de bebida na mão, então, um amigo pega o celular, tira uma “selfie” com você e posta no Facebook, marcando o seu perfil. Quando alguém for tirar uma foto que não seja do seu celular, é importante ter cuidado e, neste caso, largar a bebida, já que você não terá controle de quem pode ver a imagem. Outra dica, segundo Deisy, é cuidar as configurações do seu Facebook, ajustando para que ninguém poste nada com seu perfil marcado, a menos que a publicação seja autorizada.
De acordo com Thaís Garzieira, sócia-diretora da Staff Recrutamento e Consultoria em RH, as empresas usam as redes sociais como ferramenta complementar na seleção de candidatos, para analisar a postura e os objetivos, principalmente de concorrentes a cargos de apresentação, como uma secretária executiva, por exemplo.
Durante uma viagem de férias em algum lugar bonito, com praias paradisíacas, por exemplo, é comum tirar uma foto com traje de banho e postar nas redes sociais. Com relação a fotografias postadas no Facebook, Thaís aconselha tirar a opção “modo público” e deixar a visualização aberta somente para família e amigos. Já quando se trata de artigos e conquistas profissionais ou acadêmicas, estes podem ser compartilhados em “modo público”.
— Na medida em que o profissional se sente protagonista da sua carreira, ele consegue ter discernimento do que pode ser público — afirma.
O conselho de Thaís, tanto para estagiários quanto para executivos, é fazer bom uso dos valores, pois assim como existem empresas mais flexíveis, há também as que são mais criteriosas. Segundo ela, a pessoa pode se expor, mas deve fazer isso de forma pontual.
— Nós construímos nossa carreira o tempo todo — ressalta.
Mercado de trabalho é muito mais cruel do que a Justiça. Entenda
Preocupe-se. sim, com a reputação da empresa para a qual vocês trabalha. Isso tem efeito direto na sua imagem profissional. Confira a explicação de Rafael Souto, presidente da Produtive, em mais um dos vídeos de carreira.
Corrida para acalmar a tropa
O app da Revista Exame publicou nesta semana matéria sobre a reputação dos profissionais que trabalham em empresas envolvidas em escândalos, com a participação de Rafael Souto, CEO da Produtive.
Na manhã de segunda-feira 20, os funcionários da unidade de Lins (SP) da JBS tiveram o trabalho interrompido e foram chamados para uma reunião de emergência. Por cerca de 45 minutos, o diretor da unidade leu uma carta escrita pelo CEO da empresa, Wesley Batista, e tirou dúvidas dos trabalhadores. “Está todo mundo aflito e se sentindo injustiçado”, afirma um dos funcionários. O procedimento foi padrão em todas as fábricas da JBS espalhadas pelo país, mesmo sem que nenhuma delas tenha sido interditada e não haja menção no relatório da Polícia Federal (PF) sobre irregularidades sanitárias da companhia.
A empresa não se pronuncia sobre os procedimentos internos, mas EXAME hoje teve acesso ao comunicado, que recruta os funcionários a defenderem a empresa e suas marcas, como Seara e Friboi. “Esse é o momento de, mais do que nunca, nos unirmos para defender nosso trabalho, nossa empresa e tudo que acreditamos… Precisamos deixar tudo isso claro para todos. Não temos nada que comprometa a qualidade e a segurança alimentar de nossos produtos e marcas”, diz a carta.
A preocupação dos frigoríficos brasileiros da porta para fora ficou evidente nos últimos dias. Como as investigações ainda estão em andamento, os danos às companhias são incalculáveis. As ações de JBS e BRF estão em queda desde sexta-feira, quando foi deflagrada a operação, e uma série de mercados (como China, Hong Kong e a União Europeia), suspenderam a compra de carne. Mas uma faceta menos pública da crise de imagem acontece dentro das companhias. Afinal, a vida tem que continuar. Como acalmar os ânimos dos funcionários e continuar motivando a equipe?
A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão e um dos principais alvos da Polícia Federal convocou seus funcionários para defender suas marcas publicamente. Desde o final de semana a companhia veicula uma campanha institucional na televisão onde funcionários aparecem, de forma voluntária, segundo a empresa, postando imagens e textos favoráveis à companhia. São trabalhadores ao lado de seus refrigeradores e churrasqueiras garantindo a qualidade das carnes. A mensagem da empresa é “a gente só produz os alimentos que a gente coloca na mesa das nossas famílias”. Em nota, a companhia manifesta seu apoio à fiscalização do setor e ao direito de informação da sociedade com base em fatos, sem generalizações que podem prejudicar a reputação de empresas idôneas e gerar alarme desnecessário na população.
Ao todo, BRF e JBS empregam cerca de 300.000 funcionários. Segundo Rafael Souto, presidente da consultoria Produtive, especialista em recolocação profissional, o grande risco de episódios como esse é a “condenação dos funcionários sem apelação”. “Muitas vezes há uma transferência de reputação da empresa para os trabalhadores, que acabam sendo penalizados. O mercado de trabalho é mais rígido do que a Justiça em alguns casos e marginaliza esses profissionais”, diz. Quanto mais alto o nível hierárquico, evidentemente, maior a pressão.
“Em um primeiro momento esse escândalo atinge em cheio as diretorias e profissionais de nível sênior. Quem trabalha como analista, supervisor e nas fábricas não deve se preocupar tanto”, diz João Marcio Souza, Diretor da Talenses Executive, consultoria especializada em gestão de pessoas.
Mesmo assim, independente do cargo, o currículo pode ficar marcado. “Mesmo que nada seja provado contra essas empresas, os funcionários terão ao menos de contar essa história em cada entrevista de recolocação que fizerem”, afirma.
A lógica vale para todas as empresas mencionadas pela PF, mas para as pequenas a situação pode ser ainda pior – especialmente no caso da paranaense Peccin, acusada de usar carnes estragadas em sua linha de produção. “Os profissionais dessas companhias podem ter dificuldades de recolocação em âmbito regional”, diz Souza. EXAME. Hoje visitou a unidade do frigorífico Peccin em Curitiba e apurou que alguns dos 400 funcionários já estão procurando recolocação nas fábricas vizinhas – a fábrica está fechada por determinação judicial.
Como ainda se trata de uma investigação em que os primeiros sinais dão conta de que os problemas com a carne são episódios isolados e não enraizados na cultura das empresas, Rafael Souto, da Produtive, afirma que o estrago pode ser contido. “Uma comunicação transparente com os funcionários e com o mercado ajuda a reforçar que são problemas pontuais, e que as medidas para resolver a situação estão sendo tomadas”.
O desafio maior, segundo o consultor, é quando a corrupção se mostra enraizada. “Em casos de empresas como a Odebrecht e Petrobras, por exemplo, o problema ganhou outra dimensão. Nessas companhias, as investigações comprovam participação dos líderes e de toda a cadeia. Aí é mais difícil para o profissional se manter imune. Já vi muitos casos de funcionários qualificados terem dificuldades para se recolocar por estarem nessas empresas”, afirma. A reputação do empregador, em casos limites, pode atingir a todos – do porteiro ao diretor. “Infelizmente a minoria erra e a maioria é punida”, diz.
Nestes casos, há o risco até de uma debandada de executivos e funcionários. Segundo Souza, da Talenses, isso não aconteceu entre as empreiteiras por conta da crise econômica. “Se estivéssemos vivendo um momento como o de 2010, por exemplo, essas empresas teriam experimentado um esvaziamento de bons profissionais. Muitos só estão esperando a oportunidade certa para pular fora”, diz. Os frigoríficos trabalham, claro, para que nada disso aconteça. Uma apuração mais criteriosa do que de fato ocorreu, para informar não só os funcionários, como toda a sociedade, certamente ajuda.