Tag Archives: desenvolvimento de carreira

AS DIVERTIDAS VIAGENS DE NEGÓCIOS AO VALE DO SILÍCIO

Em sua nova coluna no Valor Econômico, nosso CEO, Rafael Souto, diz que executivos brasileiros precisam repensar a gestão das suas empresas, e não apenas se maravilhar com a inovação dos outros países, como é que acontece, de forma recorrente, com as excursões ao Vale do Silício.

Já virou um grande negócio organizar excursões para executivos ao Vale do Silício. Basta uma rápida pesquisa na internet para confirmarmos esta tendência. Inúmeras consultorias oferecem visitas guiadas, palestras e passeios empresariais rumo à Meca da inovação.

As empresas norte-americanas lideram um processo brutal de transformação e encantam o mundo com suas disrupções com fórmulas para resolver problemas do mundo, lançar soluções e gerir os negócios. Construíram um ecossistema empresarial imbatível e despertam a atenção de todos os interessados em temas organizacionais.

Como hordas de turistas em parques temáticos, os grupos visitam os ícones empresariais da região, participam de palestras e passeiam pelos simpáticos escritórios das campeãs do Vale. Tiram fotos nos letreiros e povoam o feed de notícias das redes sociais.

Toda viagem pode ser fonte de muitas ideias inovadoras e leva a algum ponto de reflexão. Por issoo, penso que um deles é o quanto a idealização das emblemáticas empresas norte-americanas nos distancia da imensa maioria dos negócios e pode retirar o foco das reais necessidades de transformação.

A inovação nos produtos e serviços é consequência de um conjunto muito mais amplo do que desenvolver aplicativos e plataformas tecnológicas. O principal fundamento de inovação está na construção de uma cultura que favoreça a transformação dos negócios.

Uma das chaves para inovar está na curiosidade dos indivíduos e no espaço que percebem para colocar suas ideias e implementá-las na empresa. A curiosidade e a permissão para explorar são a base da cultura de inovação.

A pesquisadora italiana e professora da universidade de Harvard, Francesca Gino,  fez um recente estudo global sobre curiosidade. A síntese de seu trabalho traz algumas revelações assustadoras. Embora 92% de seus mais de 600 entrevistados concordem que curiosidade é fundamental para transformação das empresas e desenvolvimento de suas carreiras, somente 8% dizem que conseguem praticar isso nas empresas em que trabalham. Quando a esfera da pesquisa sonda os líderes, a afirmação é a mesma.

Existe pouco espaço para explorar, questionar e inovar. As pessoas costumam operar no modo de sobrevivência. Adicione doses frequentes de crises e instabilidade das empresas e verá o medo de ser demitido nos olhos dos funcionários.

A ideia de que o erro faz parte do processo de inovação fica limitado aos californianos inovadores. Na maioria das empresas, errar e questionar têm um risco bem alto.

Outro equívoco comum é considerar que a cosmética do escritório seja um elemento central da inovação. Colocar bandas de rock, escorregadores coloridos e permitir que as pessoas levem seus animais ao trabalho são ações consequentes de uma cultura, mas nada significarão se não estiverem conectadas com o pensamento de gestão, fazendo sentido nas práticas do dia a dia da empresa.

Também precisamos considerar o aspecto de desenvolvimento de carreiras. Para inovar, precisamos de pessoas talentosas e elas querem perspectivas de carreira. Profissionais de alta performance podem até toleram chefes medíocres se perceberem espaços na empresa. Mas, para isso, é necessário repensarmos os modelos de comando e controle na forma de gerir os indivíduos. Dar autonomia nas escolhas de carreira e criar aproximação permanente por meio de diálogos abertos entre líderes e suas equipes fazem parte deste caminho para aumentar o protagonismo e conectar pessoas ao negócio. Não há mais retenção de talentos; mas sim engajamento de talentos.

Diversos estudos evidenciam que a perspectiva de carreira é o principal fator de engajamento e perda de pessoas. Uma pesquisa, feita pelos cientistas Shawn Achor e Andrew Reece, mostra que nove de cada dez pessoas com alto desempenho estão dispostas a trocar de empresa se não perceberem possibilidades de desenvolvimento. Isso exige uma liderança que invista tempo, tenha repertório para dialogar e queira, genuinamente, apoiar o crescimento de seu time.

Recomendo que antes de irmos ao Vale do Silício possamos refletir sobre nosso primitivismo na forma de gestão de pessoas. Afinal, tirar fotos e adular o sistema de negócios norte-americano, com posts de carros autônomos, pizzarias sem funcionários e supermercados voadores em nada transformarão a arcaica forma de gerir empresas mundo afora.

 

 

O Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Carreira da Produtive comemora trabalho reconhecido internacionalmente

O Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Carreira da Produtive realizou um estudo que revela os níveis de satisfação com o trabalho, os motivos e o perfil dos profissionais que buscam o serviço de outplacement.

A análise foi escolhida para ser apresentada no II Seminário Internacional de Desenvolvimento de Carreira e Aconselhamento: Educação, Mobilidade e Emprego, na Escola de Psicologia da Universidade do Minho, em Braga, Portugal, que será realizado nos dias 19 e 20 de abril.

Na opinião de Manoela Ziebell, líder da pesquisa e integrante do Núcleo de Pesquisa da empresa, a principal conclusão do estudo mostra a importância de conhecer o que motiva os clientes a buscarem a Produtive. “Essa visão nos ajuda a atendê-los melhor”.

Além da Manoela, o trabalho contou com as consultoras de carreira e de mercado da empresa Fernanda Bitarello, Karine Prestes, Marcia Straliotto e Rosana Bona, que levaram seis meses para o concluírem.

Para Karine, quem também apresentará o trabalho em Portugal, nesta área ainda não existem muitas publicações científicas. “Os profissionais precisam de serviços especializados para apoiá-los na tomada de decisões de carreira, tendo em vista a diversificação de estratégias para o enfrentamento de um mercado de trabalho muito mais competitivo”.

“A Produtive é a primeira e única consultoria de recursos humanos no Brasil a ter um núcleo referência em carreira e agora se destaca na produção de artigos científicos”, comemora Rafael Souto, CEO da empresa. Segundo ele, esse trabalho permite conhecer mais a fundo a demanda dos profissionais e adequar serviços e ferramentas de aconselhamento de carreira a fim de contribuir ao mercado de maneira significativa e sempre inovadora. “É a sinergia entre as teorias mais atuais em desenvolvimento de carreira à prática”.

O protagonismo na carreira ainda é um sonho distante

Em seu novo artigo para o jornal Valor Econômico, Rafael Souto mostra o que mudou no universo corporativo e como isso impacta diretamente na carreira do indivíduo.

O mercado de trabalho vem sendo sacudido por frequentes ondas de crises. Períodos de aparente bonança econômica são rapidamente abalados. Basta olharmos o cenário dos últimos 20 anos da economia mundial para nos depararmos com ciclos de rápida mudança.

No Brasil, podemos adicionar ao enredo nossa instabilidade política e as transformações acentuadas nas relações de emprego.

Até os anos de 1990, os ciclos de permanência em uma empresa eram de longo prazo. As carreiras eram geridas pelas organizações. A lógica dominante era do plano de carreira. Com um mapa pré-definido, os profissionais evoluíam em uma estrada bem estabelecida. O tempo médio de permanência na empresa era de 12 anos e meio.

Após esse período, a globalização e a necessidade de reduzir custos e de aumentar competitividade dominou a agenda dos negócios. A reengenharia fez com que os caminhos do plano linear de carreira fossem comprometidos. O plano já não era tão previsível. Prometer crescimento era arriscado e, por vezes, não viável na estrutura de custos. Surgiu o neologismo “empregabilidade”. Os profissionais começaram a pensar na carreira com uma visão de mercado e não apenas em uma única empresa para o resto da vida. Porém, a noção de desenvolvimento na empresa ainda estava associada ao plano de carreira oferecido pela organização.

Na virada do século, a problemática aumentou. Além da competição acirrada, a revolução digital pressionou ainda mais as empresas. A imprevisibilidade dos negócios e a necessidade de ajustes rápidos nas estruturas derrubaram de vez o já cansado modelo do plano de carreira. A ideia de uma evolução em cargos pré-determinada pela empresa virou peça de museu. Os níveis foram esmagados pela necessidade de cortes de custos. Qualquer promessa de plano de carreira virou ilusão.

Foi então, no meio dessa tempestade de mudanças, que chegamos à segunda década do século XXI. De um lado, os profissionais formados na era do emprego esperam a trilha de crescimento definida pela empresa e, mesmo percebendo a dificuldade do plano linear, ainda aguardam que o chefe ou a área de recursos humanos tragam as respostas sobre seus próximos passos.

O modelo mental dessas pessoas está construído nas premissas do século passado. Para tentar entender isso, o Instituto Gallup realiza pesquisas sobre engajamento no trabalho em diversos países desde o ano de 2000. O item de expectativa sobre o plano de carreira da empresa aparece nos três pontos de maior valorização das pessoas em 80% desses estudos. Ou seja, ainda temos a esperança de sermos guiados a um plano pré-definido.

Do ponto de vista da empresa, também vivemos um cenário confuso. A ausência de clareza sobre o modelo de desenvolvimento acentua as dúvidas. Perdidas entre o modelo do plano de carreira e o novo mundo do trabalho, nada definem. Têm medo de assumir que não conseguem cumprir um plano de carreira porque acham que isso assustaria seus colaboradores.

A ideia de protagonismo de carreira surgiu como uma resposta para construir o desenvolvimento profissional nesse novo contexto. Significa colocar o indivíduo no controle de sua carreira. Desenvolver nele a noção de reflexão constante sobre sua trajetória. Por isso, o plano de carreira passa a ser do profissional, não mais determinado pela empresa. O profissional é quem define suas estratégias, avalia seus pontos de crescimento e discute com a organização.

Deverá estar pronto para assumir desafios quando surgirem sem a ideia de um plano traçado previamente. Deve ocupar espaços quando aparecerem. O Prof. Dr. Mark Savickas, da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, é uma das referências globais nesse assunto e define o movimento como adaptabilidade de carreira, ou seja, a competência de construir sua trajetória e lidar com as transformações do mercado.

Para que isso não seja só uma diretriz simpática e moderna, teremos de trabalhar a educação para a carreira com mais intensidade. É uma mudança de modelo mental que precisa se ensinada desde a mais tenra idade.

Do ponto de vista da organização, o desafio será preparar suas lideranças para permitir que os indivíduos sejam protagonistas. É importante distinguirmos que a gestão de rotinas e a avaliação de desempenho até podem ser realizadas com base em comando e controle, mas a gestão da carreira precisa ser feita com uma abordagem construtivista. É necessário dialogar de forma transparente respeitando os desejos e os interesses do profissional.

Se não criarmos um ambiente com confiança e que permita o diálogo, colocaremos as pessoas no conhecido e deprimente jogo de agradar o chefe. O risco será ficarmos no pior dos mundos: sem o extinto plano de carreira da empresa e com indivíduos ainda esperando uma empresa paternalista que defina os rumos de suas vidas.