Prescrição médica: ter carreira sem saúde não é uma opção – Julho 2018
Há alguns dias, recebemos a sugestão de um leitor da Newsletter Carreira em Debate, Samuel Pereira, para abordarmos o tema do livro do Professor americano de Comportamento Organizacional da Universidade de Stanford, Jeffrey Pfeffer, “Morrendo por um pagamento” (Dying for a Paycheck), que mostra que o modelo de gestão de negócios atual gera um surto de estresse, piorando a saúde dos trabalhadores. O pedido foi aceito e é sobre este assunto que falamos nesta edição.
Para se ter ideia do problema, uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial revela que cerca de 75% dos gastos com saúde no mundo são para tratar doenças crônicas, sendo que boa parte delas vem do estresse gerado no trabalho.
De forma pragmática, essa realidade pode ter como causa a crise econômica que enfrentamos ou o enxugamento das posições nas empresas, que faz com que muitas pessoas estejam sobrecarregadas com o trabalho. É também e vai além.
A sociedade moderna prega que a identidade do indivíduo existe se ele trabalha, com a expectativa de que o trabalho é o único fator para felicidade, energia e motivação na vida dele. Mas, se não há uma mente sadia, com cuidados do corpo, não há como ter equilíbrio, segundo Odoardo Carsughi, Diretor de Recursos Humanos da Associação Congregação de Santa Catarina, que estuda este tema há muito tempo.
Na visão dele, as gerações mais antigas aceitavam o bulliyng emocional para ganhar dinheiro, porque o sonho foi construído no materialismo. “Essa é a geração do ter, estado que pouco importa para as novas gerações, que, por sua vez, desejam o ser e estão na economia do compartilhamento e da experiência”, explica.
Odoardo ressalta que dinheiro é um analgésico para aceitar toda opressão e estresse, o que nos mostra um problema conjuntural porque as organizações continuam tratando os mesmos problemas com remédios antigos e acreditam que montar salas de descompressão vão ajudá-las nesta nova era.
“Se pararmos para pensar, os filhos da minha geração, cresceram olhando os pais sofrendo em uma rotina de mais de 12 horas trabalhadas, reclamando da empresa e do chefe e, por observação, já criaram um pré-conceito desse universo e decidem que não querem viver isso”. Essa é uma das razões, na visão do executivo de RH, que provoca uma necessidade de mudança no cenário corporativo e que boa parte das empresas ainda não se deu conta, pois acham que a oferta dos profissionais que aceitam a troca de dinheiro e depreciação é eterna.
Para ele, os dirigentes das empresas, obrigatoriamente, deverão repensar os modelos de gestão, do contrário, não haverá mais oferta de trabalho. “Algumas companhias têm tentado mudar de forma profunda, mas ainda são poucas. Repensar não é cosmética, como o caso das salas de descompressão, e se for, precisa ser uma consequência”.
Modelos organizacionais mais fluidos, times multitarefas que não têm chefes, mas se juntam para conduzir os projetos, sem a tradicional hierarquia ou a ideia de comando e controle, são algumas das soluções que Odoardo vê neste novo mundo do trabalho. Ligadas a esses pontos, a confiança e um maior entendimento sobre a natureza humana também são competências fundamentais para a nova liderança desenvolver.
Não há receita de bolo, mas…
… há a parte do indivíduo para evitar ou transformar essa experiência criando opções de escolha.
A primeira delas recomendada pelo executivo é praticar atividades físicas. “Essa opressão corporativa gera uma energia intensa que vai para algum lugar e, normalmente, gera uma doença”. Por isso, busque por ferramentas que aliviem a tensão.
Depois desta vem a de investir em sua formação. Seja o profissional que o mercado quer comprar. Destine uma porcentagem do que ganha para a sua educação, independente do mercado estar aquecido ou não.
A outra estratégia é reservar para não virar refém da sua própria história. A independência financeira se constrói ao longo dos anos e não existe modo fácil de garanti-la, e sim deve estar em um patamar de extrema importância. “Sempre que quiser gastar dinheiro em algo, pensei se isso te ajudará no curto ou longo prazo. A resposta está aí”, indica Odoardo.
Para os esperançosos ou pessimistas de plantão, o fato é que esse universo do trabalho ainda vai demorar para se transformar, mas a estrada pode ter mais ou menos curvas de acordo com o modo como construímos ela.
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