Não se iluda: os líderes não são responsáveis por tudo


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Artigo de Rafael Souto, CEO da Produtive, publicado na edição de 27 de agosto do Valor Econômico:

Rafael Souto

A ideia de que a liderança é o fator-chave para retenção e engajamento de pessoas parece consolidada no meio empresarial. Nas redes sociais, costumo ler semanalmente a frase: as pessoas deixam o chefe e não a empresa.

Essa sentença nunca caiu muito bem no meu ouvido. Percebo conversando com executivos em transição de carreira um movimento diferente e quis aprofundar o tema. Um estudo conduzido pelo nosso núcleo de pesquisa mostrou resultados intrigantes.

Numa análise de 110 pessoas que haviam pedido demissão, observou-se que a maioria das saídas foi motivada por aspectos organizacionais mais amplos do que a atuação do chefe direto. Considerando a possibilidade de elencar mais de um motivo, mais de 50% das respostas circulavam em questões relacionadas à empresa, como ausência de perspectivas de carreira, incompatibilidade com a vida pessoal, valores organizacionais e não identificação com a cultura.

Os aspectos relacionados ao líder tinham percentuais não superiores a 20%, como ausência de orientação, agressividade, distanciamento e incapacidade de gerir o grupo.

Isso mostra que, de maneira geral, as pessoas toleram seus chefes desde que acreditem na empresa. Um líder extraordinário poderá ser fator importante para sua equipe, mas não suficiente para reter os melhores, se esses não acreditarem na empresa e seu propósito. Cultura organizacional extermina mais talentos do que um líder medíocre.

Esses dados não retiram o fato de que a liderança é responsável por discutir temas de carreira e ser o interlocutor da empresa. O mais emblemático é a demonstração de que as pessoas olham além do líder e essa análise é que determina a permanência na empresa.

O tema do turnover voluntário é apenas uma ilustração do fenômeno que venho observando no mercado: a hiper-responsabilização das lideranças. O líder passou a ser o responsável por tudo o que ocorre: turnover, desenvolvimento de carreira de sua equipe, gestão de conflitos, sucessão, planejamento, contratações, demissões, cumprir seu orçamento e, obviamente, entregar a meta.

O que parece estar ocorrendo é que a complexidade dos negócios e decisões aumentou muito. Na ausência de soluções empresariais, jogamos o abacaxi para os líderes, em especial no nível gerencial.

Esperamos que o indivíduo resolva tudo, motive e faça a gestão de sua área, trazendo os melhores resultados. O modelo de líder herói é inspirador.

Não estamos avaliando bem o problema. Talvez seja mais sincero aceitarmos que vivemos tempos difíceis e que existem questões não resolvidas do que esperar que os líderes intermediários equacionem os problemas.

Para ficar no tema de carreira, sabemos que a imensa maioria dos profissionais ainda espera um plano de carreira. As empresas não possuem mais essas estruturas e seus organogramas não comportam mais cargos. É uma questão difícil de equacionar. Não adiantar empurrar o problema para os gestores se não há uma solução e diretrizes claras da empresa. O conjunto vale mais do que o indivíduo.

Para trabalhar com alta performance, um gestor precisa de ferramentas. Para ser inspirador, precisará de coerência e direcionamento. Pressionado pelo curto prazo e cercado de conflitos poucas chances terá de sucesso.

Na onda de que o líder é responsável por tudo, nos esquecemos dos conflitos e incoerências na alta cúpula. Fingimos não perceber que os resultados de curto prazo importam mais do que as pessoas. Tapamos os olhos para ver que as discussões sobre pessoas não chegam ao conselho de administração. Não adianta transferir ao líder a resolução de problemas que a empresa não resolveu. No vazio de soluções, não vamos construir super gestores. Vamos, sim, afastar os bons líderes. 

Rafael Souto é sócio-fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado

 

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