Não fique parado – VOCÊ S/A
Artigo de Rafael Souto publicado na edição especial da Você S/A – Organize suas Contas:
Rafael Souto é fundador e CEO da consultoria Produtive, de São Paulo, que atua em planejamento e gestão de carreira
A decisão sobre qual a melhor estratégia para investir em qualificação e aperfeiçoamento profissional é sempre complexa.
Em tempos de crise a criticidade aumenta. A definição sobre o que estudar, onde fazer o curso e o quanto investir fica mais complicada porque o dinheiro está mais escasso e a competição entre os profissionais também é maior.
Uma das perguntas que mais escuto de profissionais em transição de carreira é: mesmo na crise devo investir? Ou ainda: qual curso trará maior impacto na minha empregabilidade?
A resposta para a primeira questão é sim. Investir na carreira é necessário para manter a atratividade no mercado. Ninguém gosta de contratar pessoas que pararam no tempo. Manter a mente em constante aprendizado é uma ótima estratégia para se diferenciar. O desafio é escolher o que fazer. Esse tema deve ser parte de uma reflexão sobre estratégia de carreira. Investimento em educação precisa estar em sintonia com um projeto de vida. Não deve ser feito para embelezar o currículo. E sim, após uma reflexão do porquê essa atividade faz sentido. Isso vale para um curso de extensão ou para um doutorado. Fazer atividades de aperfeiçoamento sem uma estratégia é agir como uma empresa que toma decisões de curto prazo sem um planejamento mais amplo. Os riscos de a decisão estar errada aumentam muito.
Para ajudar na reflexão, recomendo dois caminhos:
1 – REFORÇO DA ÁREA-FOCO
Significa investir na área principal da atividade do profissional. Para um executivo de finanças, por exemplo, a área-foco é financeira. Tenho plena convicção de que o mercado de trabalho caminha com velocidade para a era da hiperespecialização. A competição acirrada que as empresas estão submetidas exige que elas contratem profissionais com profundo domínio de uma área. Os generalistas sem foco estão em extinção. Perdem para os especialistas em todas as áreas que podem dar palpites. A visão geral de negócios é fundamental para trabalhar em grupo e crescer numa organização. Mas a sustentação da carreira está nos sólidos conhecimentos numa área. Não há espaço para superficialidade. Profissionais sem área-foco definida levam em média 40% mais tempo para se recolocar. Nessa estratégia, o desafio é analisar quais conhecimentos estão sendo exigidos e quais as tendências de cada campo. Investir em formação na área pode significar boa vantagem. A escolha pode ser por um curso robusto de especialização, mestrado ou até mesmo doutorado. Mas os investimentos também podem ser em cursos e certificações mais rápidas que tragam conhecimento e modernidade na carreira.
2 – REFORÇO DA VISÃO GLOBAL
Essa estratégia é importante para profissionais que já têm a área-foco definida. O objetivo é manter o foco e melhorar a visão geral das outras áreas. É fato que os contratantes buscam pessoas com foco, mas o ideal é que consigam interagir com as outras áreas. Seguindo meu exemplo da área financeira, um profissional com foco bem caracterizado nessa área pode escolher um curso complementar em marketing, gestão empresarial ou mesmo logística para consolidar a visão das outras áreas da empresa. Um financeiro hiperespecialista com jeito de pitbull do cofre e sem nenhum conhecimento nas outras áreas, certamente perderá espaço. Trabalhar com foco numa área, mas colaborar com o todo, inclusive participando de projetos em outras áreas, é uma tendência no mercado de trabalho contemporâneo. Nesse sentido, buscar conhecer essas atividades pode ser um diferencial. O generalista sem foco não irá sobreviver e o especialista que só olha o próprio umbigo também ficará em desvantagem. A tendência é o especialista com visão sistêmica.
Essas duas abordagens podem ajudar na tomada de decisão. Além delas, destaco outro tema que traz muitas dúvidas: o tempo de retorno do investimento em educação. Muitos profissionais imaginam ter retorno imediato após fazer um curso. O mercado não funciona assim. Investir em educação é construir uma carreira com mais musculatura. Essa capacidade ampliada pode gerar diferenciais. O reconhecimento virá disso. O retorno vem com o tempo. Pode ser até um diferencial importante na contratação, mas o que sustenta a carreira são resultados consistentes e histórias conviventes em cada trabalho.
Também devemos considerar que investir na carreira deve ser uma constante. A crise e a possível falta de recursos não podem ser uma desculpa para não estudar. É claro que o pedigree de uma escola de renome sempre agrega, mas o conhecimento pode vir também através de palestras, cursos rápidos, ou mesmo, a distância. A questão é não ficar parado esperando uma solução que venha do mercado. Faça seu projeto de carreira acontecer.
Capacitação que vale o que custa
Os critérios que você deve considerar ao investir em aperfeiçoamento num ano de incertezas
-O curso escolhido deve estar em sintonia com a sua estratégia de carreira de longo prazo.
-Uma das opções é priorizar a especialização dentro da sua área de atuação, por meio de pós, mestrado ou doutorado. Mas também vale considerar cursos e certificações mais rápidos, voltados às tendências de cada campo.
-Profissionais com a área-foco bem definida podem investir em formações que complementem seu conhecimento em outras áreas do negócio. O objetivo é que conseguir uma visão sistêmica para interagir com os outros departamentos.
– A falta de dinheiro não pode ser uma desculpa para não estudar. O conhecimento pode ser adquirido em palestras, cursos rápidos, ou mesmo a distância.