Metas mirabolantes, executivos em pânico e gerentes insones


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Artigo de Rafael Souto publicado em 19 de novembro em sua coluna Novas Conexões:

Estamos terminado um ano que entrará para a história como um dos piores da economia brasileira.

O cenário político é incerto e a desconfiança sobre a capacidade do governo encaminhar soluções é alta. O índice de confiança dos consumidores nunca foi tão baixo. A ausência de líderes que inspirem também é desoladora. O país vive um momento complexo e que levará tempo para ser resolvido. Um conjunto monumental de incompetência assolou a gestão pública brasileira nos últimos anos.

Infelizmente o cenário não é otimista: 2016 será um ano com nova retração no PIB. Mas, por razões desconhecidas, algumas empresas estão determinando metas mirabolantes e incompatíveis com a realidade.

Qualquer cenário minimamente coerente coloca o ano de 2016 numa perspectiva de retração econômica. Tenho conversado com executivos nas últimas semanas e os relatos são de que os acionistas esperam crescimento expressivo no próximo ano. Uma das empresas chegou a projetar 20% de expansão. Nesse momento do ano, as organizações estão fechando seus orçamentos para o próximo ciclo. Parece a época do cachorro louco. Os acionistas querem resultados incompatíveis com o cenário brasileiro. Uma das multinacionais da qual um executivo que conheço é vice-presidente recebeu a ordem com força ditatorial: “É para dar esse resultado que você é pago”.

É compreensível a pressão por resultados melhores e também devemos reconhecer que os anos de bonança econômica camuflaram improdutividade. Parece ser difícil, no entanto, acreditar em crescimento expressivo num ano que se mostra como a porta do inferno para muitas empresas. Essa construção de metas incompatíveis terá três efeitos no próximo ano.

A primeira consequência será o aumento do turnover de executivos. Aqueles que sobreviverem ao primeiro trimestre ou “quarter”, já podem se considerar veteranos. A composição de metas improváveis obrigará os acionistas a realizar trocas de executivos. Como eles não podem ser demitidos farão isso com seus empregados. Numa jogada típica dos cartolas do futebol, mudam o técnico para justificar os resultados. A tônica de mudar pessoas e ganhar tempo para novas explicações tem sido uma estratégia marcante no mundo dos negócios. Com exigências impossíveis, essas mudanças serão mais intensas.

O segundo efeito é o aumento do caos no ambiente de trabalho. A pressão sobre os executivos vai crescer. Essa zona intensa de toxinas que já assola os profissionais irá se acentuar. Com isso, teremos o grupo dos executivos tarja preta que irão se anestesiar para enfrentar o contexto de guerra. Outros irão apertar o famoso botão de quem não está nem um pouco preocupado com a organização. Esses irão priorizar sua agenda pessoal e já considerar uma possível demissão. Em ambos, temos perdas para o desenho de vida das pessoas e para as empresas.

Executivos doentes, cansados ou desconectados não são o ideal de nenhum contratante.

O terceiro impacto das metas mirabolantes é o drama da média gestão. Ser gerente é a pior função do mercado. Os cargos gerenciais sofrem o impacto descontrolado dos executivos do primeiro nível. Eles não participam das decisões mais estratégicas e precisam realizar os resultados.

O gerente sabe que seu chefe não concorda com o plano, mas precisa executá-lo. A diferença é que o diretor volta para sua sala e o destemido gerente terá que mobilizar sua equipe para entregar o resultado. Além disso, os chefes de nível médio são os mais penalizados pelas reduções de estrutura. Todos sabem de empresas que cortaram níveis e concentraram atividades. O gerente paga essa conta. Sem o brilho do alto executivo e sem a distância libertadora do nível mais baixo, os gerentes enfrentam a batalha do mercado com pouca estrutura e muito suor.

A tempestade de 2016 parece inevitável. Não consigo ver uma saída no curto prazo a não ser sobreviver às ondas gigantes e construir aprendizados para a carreira. Em algum momento, como é conhecido nos ciclos econômicos, voltaremos a crescer. E aí fica uma sugestão aos executivos: não proponham metas que não possam entregar.

Uma parte do problema que vivemos hoje foi o excesso de otimismo do Brasil do pós-crise de 2008. Parecia que o gigante tinha acordado. A realidade mostrou que segue sonhando.

Rafael Souto é sócio-fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado

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