Mentes sindicalizadas e o colapso do emprego
Artigo de Rafael Souto publicado hoje em sua coluna Novas Conexões, no Valor Econômico:
Desde minha graduação em direito, há quase 20 anos, me questiono sobre a ideia de hipossuficiência do trabalhador nas relações entre empregados e empregadores.
A premissa de que uma parte não tem condições de negociar está baseada numa lógica de mais de 60 anos e que não tem mais espaço no mundo do trabalho atual. Já não parecia fazer sentido nos anos de 1990, quando eu frequentava a universidade. Quem dirá na era digital, em que o trabalho sofreu alterações substanciais. Essas mudanças incluem formas variadas de remuneração, trabalho remoto, atividades em que chefes e equipe mudam de papel em projetos diversos – e a própria estrutura hierárquica tradicional vem sendo questionada.
A legislação trabalhista está muito distante das profundas mudanças que a sociedade vivenciou no seculo XXI. Desenvolvida num período de construção da indústria brasileira, as regras de convívio no mundo do trabalho dos anos de 1940 estão longe de fazer sentido nos dias de hoje.
A ideia de proteção ao emprego e a lógica de hipossuficiência fazem com que sigamos presos no túnel do tempo. Conectados a um mundo que não existe mais.
A verdadeira proteção ao emprego está na saúde das empresas. Organizações lucrativas e saudáveis empregam mais. Empresas falidas não pagam salários e não geram emprego. Sobrecarregar as empresas com uma avalanche de impostos, regras e encargos não garante nada, a não ser a dúvida de se vale a pena empreender nesse país. Os limites de negociações e os riscos para quem emprega afugentam investimentos.
No último mês de dezembro, embarquei num dos meus tradicionais voos entre Porto Alegre e São Paulo. Sentei na janela e ao meu lado acomodaram-se dois entusiasmados senhores. Em algum momento entre o embarque e a decolagem trocamos palavras. Eles perguntaram o que eu fazia. Expliquei que trabalhava com transição e aconselhamento de carreira.
Devolvi a pergunta e descobri que os companheiros representavam dois sindicatos. Um deles defendia os trabalhadores da indústria naval e o outro da indústria metalúrgica. Naturalmente conversamos sobre o cenário econômico. Não pude esconder minha curiosidade sobre a visão deles em relação a salários e à perspectiva do emprego. Concordamos sobre as dificuldades e chegamos num ponto crucial: dissídios.
Relatei que observo as empresas com enorme dificuldade de absorver mais custos e que os dissídios salariais eram mais um componente para agravar o delicado quadro das organizações. A conversa esquentou e já com o avião entre as nuvens, ouvi a frase fatal: “as empresas já ganharam muito, agora precisam dividir”. Mesmo com as empresas em sua maioria sem resultado e atravessando dificuldades severas, os defensores dos hipossuficientes trabalhadores sustentavam dissídios salariais elevados.
Argumentei um pouco mais sobre o risco desse tipo de política gerar mais desemprego. Também falei sobre meritocracia. Disse que o os reajustes lineares consumiam todo o orçamento das empresas e que o os melhores profissionais ficavam com pouco ou nenhum reconhecimento. A conversa não fluiu mais. Passei a ser interpretado como um membro da federação das empresas nas quais os ilustres colegas costumam viver seus embates.
Resolvi, então, colocar meus fones de ouvido. E ao som do “The Strokes” concluo que as mentes sindicalizadas presas em modelos ultrapassados, baseados em conflitos e na manutenção de seu poder, são um câncer para nosso país. Não haverá mini ou maxi reforma trabalhista enquanto essas pessoas estiverem no poder e com capacidade de gerar influência. Representam o passado, lutam por si e não pelos trabalhadores.
Estamos numa perigosa jornada em que as margens de lucro e a capacidade de gerar resultado das empresas são cada vez menores. Sem resultado não há investimento e sem ele o país não avança. A luta entre capital e trabalho ficou no século passado. O novo desafio está na construção de negócios sustentáveis que permitam aproveitar o melhor de cada indivíduo.