A deprimente hora de agradar o chefe


Em seu novo artigo para o jornal Valor Econômico, o CEO da Produtive, Rafael Souto, discorre sobre as estratégias de alinhamento que bloqueiam a inovação das empresas.

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Não há dúvidas de que fazer propaganda do próprio trabalho é importante. O chamado marketing pessoal conta muito na hora de crescer na carreira. Os profissionais que vivem com a ingênua ideia de que crescerão somente por resultado e habilidades técnicas passam imersos numa sensação de que são carregadores de piano. Acham que trabalham muito e não são reconhecidos. São apáticos na sua autopromoção e pagam um preço alto por isso. Ficam estagnados.

No entanto, esse jogo político parece que vem ultrapassando limites da razoabilidade. As estruturas organizacionais cada vez mais enxutas e instáveis funcionam como lenha na fogueira das vaidades. Reforçam comportamentos nos quais as pessoas precisam defender suas áreas e seus cargos com unhas e dentes.

Essa defesa de território produz vários efeitos colaterais. O isolamento entre as áreas é um dos mais evidentes. Diretores que trocam gentilezas entre si, operam nos bastidores como se estivessem numa guerra fria. Constroem castelos nas suas áreas e torcem para o fracasso do outro. As equipes ficam reféns desse movimento. Um ninho de cobras armado no topo.

Um recente estudo da consultoria McKinsey mostra que o número de níveis hierárquicos caiu, em média, de dezesseis para sete, em grandes empresas nos últimos dez anos.

O que aparentemente seria uma redução de burocracia e ganhos de agilidade representa, na prática, mais trabalho e menos estrutura para execução. As responsabilidades ficaram maiores e a quantidade de pessoas para fazer está menor.

Nem precisamos ir longe nessa análise. Basta conversar com os gestores de empresas, principalmente os que ocupam posições de média gestão. Os gerentes vivem o pior dos mundos. Distantes das decisões estratégicas e pressionados pela operação, precisam dar conta do que ninguém consegue.

Longe de ser uma relação política saudável, observo que a toxidade das companhias cresce em cada reestruturação.

O professor da Universidade de Berlim, Byung Chul Han, escreveu um ensaio chamado “O Cansaço das Demandas”. O excesso de responsabilidades e a dificuldade de atendê-las vão criando sobrecargas. A sensação de estar sempre devendo, enfraquece a criatividade e deixa as pessoas funcionando no modo zumbi. Simplesmente atendem demandas e tentam sobreviver na empresa.

O efeito mais perverso dessa onda de sobrecarga e medo é a necessidade de estar sempre em sintonia com o chefe. Uma das palavras preferidas no jargão corporativo é “alinhamento”. Na prática, significa concordar com o que está sendo decidido. Do contrário, pegue sua mochila e vá embora.  Você será taxado como rígido e desalinhado com os objetivos corporativos.

Como consequência, os profissionais estão cada vez mais especializados em mapear as ideias do chefe e dar respostas que o agradem. Arriscam pouco e aguardam as decisões serem tomadas para acompanhar a onda. São seguidores das maiorias e evitam divergências. Agem como um jogador de xadrez que analisa os movimentos para escolher a próxima jogada. O desafio é manter o poder. Dessa forma, ficam alinhados e conseguem se sustentar até o próximo corte de despesas.

Vários líderes se surpreendem quando jovens afirmam que não querem ocupar posições de chefia. Um levantamento do site americado Career Builder mostra que apenas 34% dos jovens querem cargos de liderança. Um dos motivos é que eles não querem perder suas identidades. São filhos de uma geração que concedeu mais liberdade e possibilidades de escolhas. Mesmo que sejam inundados por fantasias sobre o trabalho, conseguem ler a toxidade das empresas. Muitas vezes fogem iludidos para empresas com tobogãs na recepção e animais de estimação circulando nos corredores. Mas, o fato é que não querem um modelo de liderança baseado no comando, controle e intenso jogo político.

Aos que seguem sua caminhada rumo à cúpula, é importante ter claro que irão consumir boa parte do seu tempo em reuniões cheias de política e conchavos. A arte de agradar o chefe será uma das mais valorizadas. À noite, tome um forte analgésico e tente dormir. Amanhã cedo tem nova reunião e a pauta é inovação.

Acesse o artigo também no site do Valor Econômico

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