A anatomia das carreiras vencedoras na trajetória profissional
Artigo de Rafael Souto publicado em sua coluna Novas Conexões, na edição deste quinta-feira, 25, do Valor Econômico
As carreiras bem-sucedidas são compostas por um conjunto de fatores.
Neste artigo, que é o primeiro de uma série de três que escrevo sobre a anatomia das carreiras vencedoras, quero destacar a lógica de escolha dos empregos e o impacto dessas decisões na construção da jornada profissional.
Mesmo num cenário de crise e retração da oferta de emprego é importante selecionar o novo trabalho.
Cada passagem realizada passa a fazer parte da trajetória profissional. O mercado analisa esse conjunto de trabalhos para determinar a empregabilidade. Um profissional bem-sucedido tem atividades e resultados para mostrar. A consistência desse legado é um componente importante para medir o nível de desenvolvimento da carreira.
Essa reflexão sobre a escolha de um novo trabalho é peça-chave. Um profissional com uma história consistente sempre terá um espaço diferenciado. Por outro lado, aqueles que gastam mais tempo explicando por que tiveram que deixar a empresa do que aquilo que de fato fizeram, terão sua carreira desvalorizada.
Nas décadas de 1980 e 1990, as pessoas que ficavam por muito tempo numa empresa eram tidas como estagnadas. Hoje, as trocas excessivas e uma avalanche de currículos com períodos curtos em cada projeto (leia-se menos de dois anos) fizeram com que os profissionais com mais tempo nas empresas e com ascensão nelas tivessem sua redenção.
Para conseguir essa credibilidade na carreira é preciso acertar na decisão de entrada numa organização. O primeiro ponto nessa análise são o perfil e a reputação da empresa.
Em época de Operação Lava-Jato, a credibilidade do empregador precisa ser analisada. A imagem da organização se transfere para o profissional. O mercado de trabalho é cruel nesse julgamento. Enquanto nos tribunais cada um explica seus atos e a justiça determina as responsabilidades, no mercado basta um sinal de fumaça para condenar um executivo. A verdade é que uma empresa com imagem abalada irá levar esse drama para o executivo.
Ainda na análise da empresa é importante escolher uma empresa em que a ideologia de trabalho combine com os valores do profissional. Essa validação precisa ser feita além do processo seletivo. As entrevistas são processos imperfeitos em que cada um entra com o quem tem de melhor. O candidato e o contratante tendem a dourar a pílula para seduzir a outra parte. Nesse jogo de conquista, o risco fica ampliado.
Vencer um processo seletivo pode ser uma grande derrota na carreira se a análise da cultura organizacional não for feita. O melhor jeito de colher as informações é com pessoas que já trabalharam lá ou que conhecem a empresa com profundidade. Trabalhar num lugar que você acredite faz muito mais sentido do que produzir para esperar o salário.
O segundo aspecto para considerar na análise de um trabalho é a função que vai ser desempenhada. Ter clareza das atividades e expectativas da empresa é fundamental para reduzir o risco de entrar numa fria.
Também é relevante medir o impacto dessa nova posição na sequência de carreira. A nova função pode ser interessante para o projeto da organização e gerar limitações para a carreira. Esse desequilíbrio não é saudável. A recolocação que funciona bem é aquela que gera um ciclo positivo para ambos. Um movimento comum em épocas de crise são profissionais aceitarem projetos que tirem o foco de sua expertise. Isso precisa ser pensado com muito cuidado. A regra aqui é analisar o impacto. Não é aceitável avaliar somente o curto prazo. Um profissional com carreira consistente estuda os efeitos de cada decisão na condução de sua carreira.
O terceiro aspecto para considerar é a remuneração. Esse é o dado mais objetivo e que costuma gerar maior atenção. O engano é não colocar esse fator em conjunto com a análise da empresa e da função.
O dinheiro é fundamental, mas precisa de um projeto que o sustente. Existem situações em que o salário pode ser menor se a empresa e a função estiverem mais adequadas ao momento da carreira.
Considerar ganhos financeiros de forma isolada costuma gerar mudanças frágeis e que não se consolidam.
Encontrar um trabalho somente para pagar as contas pode ser necessário, mas não é a melhor estratégia de carreira.
Com desemprego em alta não é fácil fazer essa reflexão. A tendência é aceitar aquilo que surgir. Mas a anatomia das carreiras vencedoras mostra que as pessoas mais estratégicas na tomada de decisão constroem histórias mais consistentes.
Rafael Souto é e sócio-fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado